sábado, 10 de abril de 2010

István Jancsó (1938-2010)

"Nada melhor que a própria história para por a nu nossas limitações, enquanto perscrutadores da realidade humana. Por mais que se sofistiquem os recursos técnicos, repetem-se os 'raios em céu azul' que atordoam e confundem. E quanto mais o discurso se restringe à repetição de respeitáveis saberes já sabidos, afastando-se da salutar prática intelectual que é o confronto permanente da teoria com a realidade (entendendo-se por isso o multifacetado caminho da humanidade na construção, nem sempre linear, de sua própria humanização), maiores são as perplexidades, as angústias e, como seu produto inevitável, os descaminhos da prática."

O Professor István Jancsó faleceu na madrugada de 23 de março de 2010. Infelizmente só tomei ciência do seu passamento  em 4 de abril (através do programa Pesquisa FAPESP da rádio Eldorado). 
Concluí minha graduação em História  em 2002 e, embora frequente a biblioteca da FFLCH-USP sempre que posso e faça um ou outro curso, tomo contato as notícias da Universidade de São Paulo de forma mais lenta…
O texto que segue abaixo foi uma mensagem que enviei para o blog Paisagens da Crítica, de Julio Pimentel Pinto, professor no Departamento de História da USP, que prestou singela homenagem ao mestre desaparecido. Fiz pequenas modificações. O original que postei pode ser conferido, juntamente com os demais comentários de pessoas que conheceram o professor István Jancsó, neste link: 
http://paisagensdacritica.wordpress.com/2010/03/23/istvan-jancso/

Fui aluno do István no segundo semestre de 1997, em Brasil Colonial II. O que guardo de sua pessoa são a honestidade intelectual, o rigor empírico e conceitual , enorme vontade de ensinar. E principalmente uma extraordinária afabilidade no trato com os alunos (e colegas). Foi sua assinatura no espaço um tanto impessoal e gélido do departamento de História.

Lembro de uma tarde de 1997, quando aconteceu um debate entre candidatos a reitor no Anfiteatro de Geografia e ele conclamando a turma de Colonial II a assistir e participar do evento. Dispensou a turma um pouco mais cedo. Modéstia à parte fui um dos poucos da sala a comparecer no debate dos reitoráveis. O evento foi meio morno e o quórum um tanto reduzido. Ele conseguiu me identificar entre o pessoal espalhado entre a arquibancada e mandou um sorriso. Na semana seguinte deu um pito amoroso na turma, indignado com o pouco interesse do corpo discente num momento tão importante para a Universidade, indagando como reagiriam se esta fosse privatizada, o que fariam a respeito da mensalidade, caso esta fosse imposta e por aí vai…

Dentro do currículo da 7a. série está a temática da crise do sistema colonial, as conjurações e o processo de emancipação e formação do Estado brasileiro, temas que ele dedicou a pesquisar vários anos de sua vida. Enquanto pesquiso e preparo aulas e atividades, sua presença e marcas como mestre serão constantes, no educador que luto para continuar a ser. Ali, István Jancso permanecerá vivo.

A citação é de um ensaio escrito pelo professor István entitulado  "A Crise do Stalinismo e A Questao Nacional.", presente no livro  A História à deriva- um balanço de fim de século. organizado por Jorge Nóvoa, Salvador: Edufba,1993, p.109

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