quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Amorphis - Eclipse, 2006





Silent Waters (2007) é o oitavo álbum de estúdio do Amorphis. A banda finlandesa prossegue com seu trabalho inspirado na mitologia de seu país, as letras constituem traduções de poemas escritos por Pekka Kainulainen. A lírica está centrada no personagem Lemminkäinen, um dos heróis do Kalevala, compilação de poemas épicos da mitologia e folclore finlandeses realizada por Elias Lönnrot (1802-1884). Médico, botânico e linguista, Lönnrot empreendeu diversas viagens no interior da Finlândia e Rússia coletando canções, poemas e narrativas da tradição oral. Este trabalho teve uma papel fundamental na estruturação da língua e identidade nacional finlandesa, contribuindo para a independência do país em relação à Rússia.
Sucessor de Eclipse, de 2006, Silent Waters mantém o nível de qualidade musical do grupo. Destaca-se, também, a belíssima arte gráfica do encarte, do qual reproduzo algumas imagens.




Silent Waters





A day's light told me of my son's fate
The sun showed the way, grim and severe
Pulled under the raging waters, my child
Sank in the drowning currents, my son
My strenght is not enough, my powers failed me
I need the heavens help, I ask for thunder's force
I plead for you oh lightning, forge an iron tool
A magic rake for dragging, a river for my son
God of fire bring your light
Forger of sun help me now
Guardian of the shore will sleep in your warmth
Lull the folk of cold water
Banish the serpents of the dark
To the river let me go and fetch my son away
A rake made of iron from the Gods of skies
The spirit of bright days sent me the sun
Cold troops of Tuoni can not stand in my way
Untouched I shall walk by the river of the night
My child
My son
A luz do dia me contou sobre o destino de meu filho
O sol me mostrou o caminho, duro e severo
Empurrado para as águas ferozes, minha criança
Engulido pelas correntes, meu filho
Minha força não é o suficiente, meus poderes me falharam
Preciso da ajuda dos céus, peço a força do trovão
Eu te imploro, ó tempestade, forje uma arma de ferro
Um ancinho mágico para arrastar, um rio para meu filho
Deus do fogo, traga-me a luz
Forjador do sol, me ajude agora
Guardião das marés irá dormir em seu calor
Acalme o povo da água fria
Expulse as serpentes das trevas
Ao rio deixe-me ir e buscar meu filho
Um ancinho de ferro feitos pelos deuses dos céus
O espírito dos dias claros me enviou a luz
Tropas frias de Tuoni não podem ficar em meu caminho
Intocado, devo caminhar no rio da noite
Minha criança
Meu filho




Towards And Against




I have known the arcane lore
on strange roads such visions met
that I have no fear nor concern
for hatred and obstacles of this world
By stone-shooed wanderer I am taught
my visions from fiery eyed iron-armed chanter
I know how to fight, I know how to sing
I know hot to bend, I know how to break
I've not grown weary on lengthy roads
on strange lands not hone astray
such is the knowledge cast in me
such is the knowledge, such are the skills
I know how to fight
I know how to sing
I know the way
If ruin is said to befall me
it has not come to pass
I've conquered all who stood on my way
and drowned the snakes of death
Because of treason i now shall leave
because of my blood burning my soul
and now I raise this flaming sword
towards darkness, against everyone

Eu conheci a sabedoria dos arcanos
Nas estradas estranhas visões, encontrei
O que eu não temo e nem me preocupo
Para o ódio e os obstáculos deste mundo

Ao andarilho pedra enxotou estou ensinou
Minhas visões de cantor de olhos inflamados de ferro armado
Eu sei como lutar, eu sei como cantar
Sei quente para dobrar, eu sei como quebrar

Eu não cansei de em estradas longas
Em terras estranhas não desviar afiar
Tal é o conhecimento elenco em mim
Tal é o conhecimento, tais são as habilidades

Eu sei como lutar
Eu sei como cantar
Eu sei o caminho

Se a ruína diz que se abateu sobre mim
Ela não tem passou aqui
Eu conquistei todos os que estavam no meu caminho
E afoguei as cobras da morte

Por causa da traição eu agora devo ir
Por causa do meu sangue queimando minha alma
E agora eu levanto essa espada flamejante
Para a escuridão, contra todos




Enigma




On his trail the stones grew
he was led astray
forces strange he had to face
magic unseen
when he asked he was not answered
but he would not yield
what he asked for was not given
To a whirling mass of waters
the mountains of high
his desire he spoke out
to claim his due
a shadow moved in Louhi's mirror
the fairest maid of them all
restless mind found her to his liking
but the queen wanted more
Louhi spoke in riddled tones of three things to achieve
fin and catch the devil's moose and bring it there to me
seek the stallion born of fire, harness the flaming horse
he captured and bound the moose, he tamed the golden horse
Still remained the final test
hunt the bird from the stream of death
Em seu rastro as pedras cresceu
ele foi desviado
forças estranhas ele teve de enfrentar
magia invisível
quando pediu que ele não foi respondida
, mas ele não daria
o que ele pediu não foi dado
Para uma massa rodopiante de águas
das montanhas de alta
o seu desejo, ele falou
para reclamar o seu devido
uma sombra passou no espelho Louhi de
a mais bela dama de todos
mente inquieta encontrou-a a seu gosto
, mas a rainha queria mais
Louhi falou em tons crivados de três coisas para alcançar
fin e pegar alce do diabo e trazê-lo de lá para me
buscar o garanhão nascido do fogo, aproveitar o cavalo flamejante
ele capturou e prendeu o alce, ele domou o cavalo de ouro
Ainda continua a ser o teste finalcaçar a ave do fluxo de morte.


Shaman


 Mother wept for her son
she wept and sang
anxiously pndered fate
his and her own
A sun's ray, in through the eye
glimmered in the room of mind
changing the woman shape
sorrow fled her face
From the shaman into shaman
From the chimney a witch flew out
shaman dived across the sky
under her the woods and lakes
till she saw the Northland gates
I have come for my son, where is my son?
I accept no lies, no falsehoods or deception
I'll send you plagues unnumbered
destruction upon your house
I lay to waste your treasures
and slay your fairest daughter
The queen of north told the way
the road to River Black
impossible and incomplete
the path of no return
Mãe chorou por seu filho
chorou e cantou
destino ansiosamente pndered
seu e seu próprio
Um raio sol, no meio do olho
brilhava na sala da mente
mudando a forma mulher
fugiu tristeza seu rosto
Desde o xamã em xamã
Da chaminé de uma bruxa voou
xamã mergulhou no céu
sob seus bosques e lagos
até que ela viu os portões Northland
Eu vim para o meu filho, onde está meu filho?
Aceito sem mentiras, sem falsidades ou engano
vou enviar-lhe atormenta sem numeração
destruição sobre sua casa
eu leigos a perder os seus tesouros
e matar sua filha mais justa
A rainha do norte disse o caminho
da estrada para Rio Negro
impossível e incompleto
o caminho sem volta


Sobre a garota do cabelo azul.


O caso envolvendo a adolescente Isabella Diamantino, de 16 anos, aluna de uma escola particular de Uberaba1 (MG) impedida de assistir aulas2, há pouco mais de quinze dias, devido a pintura azul de seu cabelo pode ser elencando como mais um exemplo de “tempestades em copo d'água” ou oportunidades desperdiçadas de discussão pública que permeiam o campo educativo na contemporaneidade.

A curiosa justificativa do colégio era de que o cabelo "deve estar dentro da normalidade racional". Se deduz que exista alguma "anormalidade racional" (que confrontaria hábitos arraigados e que não se sabe para que servem) e também uma "anormalidade irracional" (esta deixo para a imaginação dos leitores). Por fim aparece o sigelo "ou se enquadrava ou não poderia entrar mais...". Dito e feito, os pais da garota decidiram procurar outra escola.
A presidente do Sinepe/TM (Sindicato de Escolas do Triângulo Mineiro ficou do lado do colégio uberabense com o infalível(mas nem sempre ético e justo)"a vontade da maioria", argumentando (?)que "Um grande número de pais e alunos pode não considerar normal o cabelo azul da criança" concluindo com chave de ouro "E eu acho que a gente tem de ir pela maioria."

Não custa lembrar que a reportagem é resultado de uma edição, para não ficar demasiado extensa ou repetitiva (e outros critérios nem sempre muito claros e confessáveis). Todavia, a equipe gestora do colégio não se aproveitou muito do direito ao contraditório, optando por não se manifestar a respeito do assunto.

De qualquer forma, o assunto não chamou tanto a atenção, pois depois seria soterrado pelas coberturas do julgamento de Lindemberg Alves Fernandes, da menininha morta pelo jet ski, novidades na disputa pela prefeitura de São Paulo entre outros...

A meu ver o imbróglio acaba servindo de alimento de um lado, para um discurso anti-escola (de esquerda?), que vê em cada acontecimento na instituição uma conspiração anti-libertária e violência contra os inocentes, do outro lado é combustível para uma visão que, a qualquer preço, intenta transformar o dispositivo escolar numa extensão do mundo corporativo, anexo da empresa, ou numa linguagem mais polida “empreendedorismo”. Daí é um pequeno passo para a enunciação da escola deve “preparar para a vida” (ou seja, adestras para o mercado), "promover a cidadania" (esvaziada de seu sentido político, apenas num sentido voluntarista e eleitoreiro), entre outros slogans. Do mesmo modo, vem o discurso “cientificamente correto” clamando a adoção de novas traquitanas pedagógicas, tranformando a escola numa espécie de lan house ou extensão de programas de auditório.

Finalmente, há o dilema (ou melhor, um pseudoproblema) entre a cultura e a vida. Em condições ideais, sem injunções da sociedade, a escola deveria operar uma “quarentena” da “vida” imediatista, um distanciamento e um questionamento do que é posto diante de nossos olhos. Enfim, ocupar-se da cultura, o que foi historicamente produzido e acumulado pela humanidade, a cultura humanistica, literária e científica a ser transmitida, apreciada e reelaborada...

Pode-se aventar a hipótese de que a cultura juvenil que sustenta a preferência pelo cabelo tingido de azul contenha elementos que estejam relacionados a sexualidade mais precoce 3. Quiçá associado a animes eróticos. Não me recordo de ter lido algo assim, mas que exista alguém a pensar desta forma, não duvido. Talvez exista algum risco de misturar componentes químicos que causem irritação no couro cabeludo, das mais leves às lesões graves, uma preocupação relevante. No mais, a origem deste costume é complexa, envolvendo mistura de elementos da cultura gótica, clubber, emo, personagens de mangás e animes, modelos, atrizes de cinema, cantoras...

A pertinência de determinadas sanções e normas de convivência na instituição escolar (bem como em outras instituições humanas) não está em discussão. O que é important é como realizar isto sem estilhaçar o aluno como sujeito moral, ou em outras palavras, dar um sentido, um porquê de sua função. Do contrário, vai parecer algo sem significado, um capricho, e produzir resultados adversos,ampliando resistência à indiferença frente a cultura escolar.

Talvez seja um habitus persistente, secular, mas muito poderoso, relativo a “boa apresentação e/ou aparência” , análogo ao tempo em que era imprescindível, obrigatório, trajar roupa social em certos eventos e lugares. Talvez esta seja uma motivação implícita na atitude da equipe gestora do colégio.

Entretanto, no que prejudica o desempenho escolar ou profissional o tipo de cabelo? Seria o corpo discente tão distraído e volúvel que a aparência diferente da colega seria um empecilho à concentração? Se for esta a preocupação, então o nível de atenção e comprometimento destes alunos seria algo inacreditável...

Com o exotismo da notícia, fica postergada a meditação mais ampla sobre o sentido que se quer dar à educação no século XXI,e de como formar um sujeito livre, que não esteja à mercê do radicalismo estéril, das pseudonecessidades induzidas pelo mercado e industria cultural.


1. Trata-se do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira, em Uberaba. No site da instituição, no tópico Missão, Visão e Valores lemos o seguinte: "Sabemos que educação é mais do que instruir. A educação é tornar as pessoas livres para fazerem suas escolhas com consciência e capacitá-las a participar ativamente da sociedade na qual estão inseridas. Para que isso se torne realidade, é fundamental um ensino inovador e uma abordagem multidisciplinar baseada em problemas que desenvolvam as habilidades e competências compatíveis com as demandas econômicas e sociais." Ou que a escola tenciona " Oportunizar a formação de cidadãos críticos e reflexivos, com efetivo compromisso de responsabilidade social, para uma vivência pautada na justiça, na verdade e na solidariedade." De que forma a coloração do cabelo estaria ferindo estes ideais?
2. Pode ser encontrada aqui .
3. Algo que pode ser associado à grotesca e autodestrutiva cultura(?)do funk, que realmente amesquinha a existência humana, com a degradação da mulher, sugestões de pedofila, apologia à violência e homofobia. Entretando, educadores politicamente corretos não notam algo negativo nisto tudo...

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Johann Gottlieb Fichte - Soneto



De onde foi que recebi esta força em meu olhar
Que dissipou a feiúra do mundo, clareou
As noites com branda luz solar e transformou
Podridão e desordem em ordem e vida?


Que é que, pelos enigmas de espaço e tempo,
Seguro me conduz até a fonte eterna
Dos deleites do bom, do verdadeiro e belo,
E, nela, todos os meus desejos aniquila?


É isto: silenciei; e fiz a flama de luz,
Azul e profunda, translúcida, pura e calma,
Espelhar-se nos divinos olhos de Urânia.


E desde então esses olhos repousam em mim,
Eles são no meu ser: e o eterno e uno
Vive em minha vida, vê em meu olhar.

Tradução: Gusmão de Oliveira Manzur