A geografia deslumbrante do planeta Pandora, talvez seja, até o momento, a mais completa elaboração de um mundo imaginário que tenta, ao menos, seguir certa veracidade científica (biológica, climática, física, geológica...) sem subjugar a criatividade a uma racionalidade fechada. A especulação científico-artística de Avatar não surgiu num vazio. Há antecedentes.
O geólogo/paleontólogo escocês Dougal Dixon elaborou formas de vida que habitariam a Terra 50 milhões de anos no futuro, onde o homo sapiens tornou-se registro fóssil. Seu bestiário inclui símios-corujas, morsas crocodileanas, macacos-felinos, lhamas-roedores, cetáceos-pinguins ou pinguins-cetáceos, caprinos e antílopes com chifres de formatos impossíveis e exuberantes... e por aí vai, num ciclo da vida implacável. Sempre com descrições detalhadas da anatomia, habitat, alimentação, comportamento, reprodução. Como se fosse um catálogo de zoologia real. Tudo isto no livro
After man: a zoology of the future (New York:
St. Martin's Press), de 1981. Lamentavelmente, permanece inédito em português
(1). Depois Dixon também imaginou uma evolução alternativa e bizarra para os seres humanos
(2). Tomei conhecimento de imagens do After Man aos 13 anos, numa matéria da revista Manchete, perto do natal de 1987. Creio que ainda tenho estas páginas guardadas em alguma pasta em casa. Depois fui pesquisando mais. Este foi meu primeiro encontro mais profundo com o realismo fantástico.
O mundo, 50 milhões de anos no futuro, apresenta a seguinte configuração: ao norte uma imensa cordilheira de montanhas, formadas após o choque entre a África e a Europa (devido à movimentação das placas tectônicas); a América do Norte e a Austrália também se moveram para o norte, unindo-se com a Ásia. A América do Sul migrou para o sul, tornando-se um continente isolado. Existem três novos arquipélagos: Lemúria, Pacaus e Batavia.
Os animais são divididos conforme seu habitat: Bosques e Prados, Florestas de Coníferas, Regiões Polares, Montanhas, Desertos, Pradarias e Savanas, Florestas Tropicais, América do Sul, Ilha de Lemúria, arquipélagos de Pacaus e Batávia.
A equipe de excelentes ilustradores é composta por Brian McIntyre, Diz Wallis, Gary Marsh, John Butler, Philip Wood e Roy Woodward. Embora cada um tenha ficado responsável por um certo número de ilustrações (Marsh ficou com os dois primeiros capítulos, de caráter introdutório
3) a concepção estilística da obra segue certa uniformidade quanto a representação dos animais, sem sufocar totalmente o estilo particular de cada artista. No mais a ilustração está a serviço da ciência, conforme uma longa tradição, enriquecida hoje, com a tecnologia digital.
Interessante notar que, enquanto existe uma explosão criativa relativa à vida animal, a flora não parece acompanhar esse delírio evolutivo. O mundo vegetal aparentemente não parece ter mudado de forma significativa, 50 milhões de anos no futuro, servindo mais como cenário. Vale ressaltar que o exotismo não é gratuito, o design por vezes bizarro de algumas criaturas possui alguma coerência quanto as possibilidades de adaptação ambiental e mutação genética, tendo como suporte, os saberes biológicos e geológicos, produzidos até o início da década de 1980, época em que After man foi publicado.
Segue uma amostra da magnífica arte deste livro. Para ampliar é só clicar em cada imagem da galeria e, por fim, um link de download do livro: