Péricles Eugênio da Silva Ramos (1919 -1992) destacou-se como um dos representantes da chamada Geração de 45 na poesia brasileira. Formou-se na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Além de poeta foi tradutor, crítico literário, jornalista e professor. Constituiu, também,carreira na administração pública, chegando a ser chefe da Casa Civil do Governo do Estado de São Paulo em 1976. Destacou-se também na área administrativa ligada à cultura: como diretor técnico do Conselho Estadual de Cultura, participando da criação de vários museus em São Paulo, entre eles o Museu da Imagem e do Som - MIS, Museu de Arte Sacra e Museu da Casa Brasileira - MCB.
Sua obra poética compreende os livros Lamentação Floral – 1946, Sol sem Tempo – 1953, Luar de Ontem – 1960, Futuro – 1968 e A Noite da Memória - 1988
Traduziu poemas de, entre outros, Byron, François Villon, John Keats, William Shakespeare e Manuel de Góngora. Também organizou antologias de diversos poetas e publicou os livros de ensaios O Verso Romântico e Outros Ensaios (1959) e Do Barroco ao Modernismo (1967). Entre as antologias que organizou está Poesia Grega e Latina, editada em 1964 pela Editora Cultrix (infelizmente fora de catálogo e raríssima), da qual selecionei alguns poemas, segundo meu gosto pessoal.
O legado da poesia helênica, tal como o teatro, é bastante irregular, com poemas completos e outros bastante fragmentados. Há autores que nunca vamos conhecer. Todavia, o que sobreviveu não nos impede de apreciar a beleza e força destes versos.
Mimnermo de Colofão (século VII ª a.C.)
Como as folhas que brotam
na primavera em flor
e crescem rápidas à luz do sol,
assim é que nós somos;
como essas folhas, por exíguo prazo
podemos usufruir da juventude em flor,
desconhecendo, por divina graça,
quer o mal, quer o bem.
A cada lado estão as negras Parcas:
traz uma a cruel velhice, a outra a morte.
Da juventude o fruto dura muito pouco,
não mais que sobre a terra à luz do sol;
e quando possa a plenitude desse tempo
e então melhor morrer do que viver.
Arquíloco de Paros (século VII ª a.C.)
Com a lança eu alcanço
meu pão de cevada;
com a lança eu consigo
o meu vinho ismárico;
na lança apoiado
eu bebo esse vinho.
― ‖ ― ‖ ―
Com um ramo de mirto
e uma bela rosa
ela brincava;
e os cabelos
lhe caíam pelos ombros
e pelas costas,
como sombras...
― ‖ ― ‖ ―
Tenho uma grande arte
eu firo duramente
aqueles que me ferem.
Alcmeão (Lacônia, século VII ª a.C.)
Dormem os píncaros e os precipícios,
os promontórios e os desfiladeiros,
e todo gênero de repteis
alimentados pela terra negra,
dormem as feras das montanhas
e o povo das abelhas,
dormem os monstros nos abismos
do mar de púrpura:
e dorme a tribo inteira
dos pássaros de longas asas.
Semônides de Amorgos (século VII ª a.C.)
Meu filho, o fim de tudo está nas mãos
do trovejante Zeus,
o qual dispõe como bem quer.
O saber não se encontra ao nosso alcance:
como animais vivemos nosso breve dia,
desconhecendo como o céu conduzirá
ao seu destino cada coisa.
Nutrem-nos esperança e enganadora crença,
e ansiosamente é que lutamos
para alcançar o inatingível...
Contemplo como o igual dos próprios deuses
esse homem que sentado à tua frente
escuta assim de perto quando falas
com tal doçura,
e ris cheia de graça. Mal te vejo
o coração se agita no meu peito,
do fundo da garganta já não sai
a minha voz,
a língua como que se parte, corre
um tênue fogo sob a minha pele,
os olhos deixam de enxergar, os meus
ouvidos zumbem,
e banho-me de suor, e tremo toda,
e logo fico verde como as ervas,
e pouco falta para que eu não morra
ou enlouqueça.
― ‖ ― ‖ ―
A lua já se pôs,
as Plêiades também:
meia-noite; foge o tempo,
e estou deitada sozinha.
― ‖ ― ‖ ―
O amor agita meu espírito
como se fosse um vendaval
a desabar sobre os carvalhos.
Híbrias (c. século VII ª a.C.)
Minha grande riqueza
é uma lança e uma espada,
e à frente do corpo
um formoso broquel.
Com eles eu aro,
com eles eu colho,
com eles eu piso
o fruto das vilhas,
com eles os servos me chamam Senhor
Mas os que não ousam
levar lança e espada,
e à frente do corpo
um formoso broquel,
os joelhos me abraçam
caindo a meus pés,
e como a um Senhor
me prestam respeito,
e chamam-me até com o nome de rei.
Anacreonte (Teos, Iônia, c. 560 a.C.)
Galgo o rochedo
e dele precipito-me
às ondas espumantes,
ébrio de amor.
― ‖ ― ‖ ―
Tem olhos meigos, como
um pequenino cervo
que há pouco tempo mama,
ao ser abandonado
pela graciosa mãe
no meio da floresta.
― ‖ ― ‖ ―
Encaneceram minhas têmporas
tenho a cabeça calva e branca,
deixou de estar comigo
a amável juventude,
e já meus dentes são de velho
Resta-me breve prazo
de doce vida; e assim
eu ergo o meu lamento
com pavor do outro mundo.
Terrível é a mansão da morte,
árduo o caminho para lá;
é certo que uma vez lá embaixo
não haverá retorno.
― ‖ ― ‖ ―
Agatão, o fortíssimo
por Abdera morreu:
ao pé de sua pira
chora toda a cidade
pois Ares, que ama o sangue,
jamais levara um jovem como ele
no turbilhão de uma batalha odiosa.
Teógnis de Mégara (século VI ª a C.)
Jovens, dormi com as moças
de vossa idade, e desfrutais
de labor e delícias amorosos.
Que no banquete soem flauta e canto.
Para homens e mulheres, que há de mais sábio?
De que me valem honras e riquezas?
O prazer e a alegria a tudo excedem.
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O amor é amargo e doce, encantador e cruel,
enquanto, ó Cirno, os jovens o pretendem:
doce é alcançá-lo,
mas triste é procurá=lo e não o achar.
― ‖ ― ‖ ―
Ninguém, ó Cirno, causa a sua própria ruína,
nem por si mesmo é que prospera:
tudo nos vem dos deuses.
Ninguém sabe se os atos que pratica
terão efeito bom ou mau:
vêm deles ora o bem, quando se quer o mal,
vêm deles ora o mal, quando se quer o bem.
Ninguém alcança, em tudo, o que deseja;
o desamparo traça raias
que não permitem ir à frente.
Nada sabemos, nós, os homens,
e é vão o que pensamos;
os deuses tão somente cumprem tudo
segundo os seus desígnios.
Simônides de Ceos (c. 556 – 468 a. C)
Homem mortal,
não queiras predizer
o que o Amanhã trará,
nem, vendo alguém feliz,
o tempo em que há de assim continuar.
É rápida a mudança:
tão rápido não é o voo instável
da libélula de asas céleres.
― ‖ ― ‖ ―
Com a doce música,
sobre sua cabeça
faziam ninho
os pássaros inumeráveis,
e da água azul saltavam peixes.
A sorte dos mortais
cresce num só momento;
e um só momento basta
para a lançar por terra,
quando o cruel destino
a venha sacudir.
Efêmeros! Que somos?
Que não somos? O homem
é o sonho de uma sombra.
Mas quando os deuses lançam
sobre ele a sua luz,
claro esplendor o envolve
e doce é então a vida.
― ‖ ― ‖ ―
Melhor é desejar do céu
coisas que assentem a um espírito mortal,
sabendo o que se encontra a nossos pés,
e qual a sorte por que nascemos.
Ó minh'alma, não aspires
a uma existência de imortal
mas goza plenamente
tudo o que esteja ao teu alcance.
― ‖ ― ‖ ―
De uma só raça, apenas uma,
nós somos, deuses e homens:
de uma só mãe tiramos nosso alento.
Separa-nos porém,
o desigual poder: o homem é nada
mas para os deuses
morada para sempre inabalável
é o céu de brônzeo piso.
Pela forma corpórea, ou no vigor do espírito,
somos no entanto como os iortais,
embora não saibamos onde,
no meio de que dias ou que noites,
o Destino escreveu que deveremos
findar nossa carreira.
― ‖ ― ‖ ―
Vim para celebrar os filhos
de pais sublimes e de mães tebanas,
quando, ao abrir-se a câmara das Horas
dos véus de púrpura,
a primavera, perfumada nos concede
toda uma floração tão doce como o néctar.
Pela terra imortal brotam então
os meigos tufos das violetas,
e de rosas enfeitam-se os cabelos,
enquanto a voz das flautas se une à das canções
e os coros se erguem para Sêmele
de fronte ornada por um diadema.
― ‖ ― ‖ ―
Enquanto aqui é noite,
o sol fulgura vigoroso para eles
no mundo subterrâneo;
e diante da cidade,
pelos campos de rosas carmesins, o incenso
derrama a sua sombra,
e os ramos vergam-se com frutos de ouro.
Uns se divertem com cavalos ou lutando,
enquanto jogam outros, ou a lira tocam,
e entre eles a felicidade é como a árvore
que já cresceu de todo e se acha em flor.
Por essa terra amável
um doce aroma sem cessar se espalha:
nos altares dos deuses eles mesclam
arômatos de toda a espécie
ao fogo que de longe brilha.
Denso negror expelem no outro lado
os lentos rios da sombria noite.
Praxila de Sicião (século V ª a. C)
A luz do sol
eis o que deixo de mais belo:
depois as nítidas estrela
e o rosto da lua,
as melancias já maduras
e as maçãs e as peras.
― ‖ ― ‖ ―
Ó tu que me olhas lindamente
através da janela
virgem no rosto,
embaixo esposa.
Íon de Quios (século V ª a. C)
Bravia criança de taurino rosto,
jovem e velho, ó tu, o mais amável
servidor dos desejos trovejantes,
vinho que o espírito levantas
e és o Senhor dos homens.
Licofrônides (século V a.C ou IV a. C?)
Rosa, gorro, sandália e esta lança
que mata as feras
como bela oferenda eu te consagro:
meus pensamentos
voltam-se agora para linda jovem
amada pelas graças.
Erina (c. Século IV a. C ?)
Ó estelas e Sereias, urna funerária
que encerras minha pouca cinza,
saudai a gente que se acerca de meu túmulo,
seja daqui ou forasteira.
Contai: mal me casara, a morte me colheu;
o nome que meu pai me pôs
foi Báucis; Telos, o lugar onde nasci:
e Erina, minha amiga,
em meu sepulcro estas palavras inscreveu.
Um comentário:
Odono desse blog postou belas poeias da grecia antiga lhe dou um sincero parabéns
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