terça-feira, 3 de julho de 2012

Michael Oakeshott: alguns fragmentos.




Michael Oakeshott (1901-1990), filósofo inglês, lecionou ciência política na Universidade de Oxford e na London School of Economics. Sua obra abrange reflexões sobre teoria da Histórica, Filosofia do Direito, Estética, Religião, Política e também assuntos ligados à educação.
Entre suas obras:

Experience and Its Modes. Cambridge University Press, 1933. 
Rationalism in Politics and Other Essays. Methuen 1962
 On Human Conduct. Clarendon Press , 1975.
On History and Other Essays. Basil Blackwell 1983 (edição brasileira: Sobre a História e outros ensaios. Rio de Janeiro: Topbooks, 2003)

A postura fundamental filosófica de Oakeshott combina elementos de ceticismo, idealismo e humanismo. Para ele, não existe filosofia, não existe garantia absoluta de que qualquer coisa que a gente diga ou faça seja justificada. A realidade é mediada para nós apenas por certo número de práticas humanas distintas, como história, moralidade, política, ciências, filosofia e poesia. Nenhuma visão da vida ou experiência deve ter precedência sobre o resto. O que temos é uma certa quantidade de distintas práticas e modos que provaram seu valor ao longo do tempo, apropriados aos papéis específicos para os quais foram preparados. Cada prática é uma realização humana específica. Cada qual revela apenas uma parte do todo, no entanto desvenda uma parte. A fim de descobrir qual poderia ser esta parte, temos de estar cientes da prática, e isso significa penetrar nela como algo que precisa ser vivido. O que uma prática oakeshottiana constitui não pode ser analisado em termos externos a ela, nem seus objetivos podem ser justificados em outros termos que não o seu próprio.”

Joy A. Palmer 50 grandes educadores modernos, de Piaget a Paulo Freire. São Paulo: Contexto, pp. 63-64


"Ser humano é reconhecer-se relacionado com outros, não como as partes de um organismo são relacionadas, não como membros de uma “sociedade única e inclusiva”, e sim em virtude de participação em múltiplos relacionamentos compreendidos e na fruição de linguagens históricas compreendidas de sensações, sentimentos, imaginações, desejos, reconhecimentos, crenças morais e religiosas, exercícios práticos e intelectuais, costumes, convenções, procedimentos e práticas, cânones, máximas e princípios de conduta, regras que denotam obrigações e funções que especificam deveres.

O habitante de um mundo composto não de “coisas”, mas de sentidos, isto é, de ocorrências em algumas maneiras de reconhecer, identificar, entender e responder de acordo com este entendimento. É um mundo de sentimentos e crenças, e inclui também artefatos humanos (como livros, retratos, composições musicais, instrumentos e utensílios). […] Não compreender isso é ser não um ser humano, mas um estrangeiro da condição humana.


“(...) Não há tal coisa designada como “natureza humana”; há apenas homens, mulheres e crianças respondendo alegremente ou de forma relutante, reflectidamente ou menos reflectidamente à experiência da consciência que existe como resultado da sua autocompreensão. Sermos humanos também não é “termos uma habilitação especial” como a de engenheiro eletrotécnico. Se a nossa principal preocupação é com a autoconsciência, então para que serve toda esta parafernália educativa? (...)”


“(...) A ideia de escola é a de um “lugar à parte” onde um neófito poderá encontrar-se com a sua herança de forma imparcial,sem sofrer as distorções e corrupções provocadas pela linguagem
corrente; é também um compromisso de aprendizagem feito não pelo acaso, mas pelo estudo em condições dirigidas com a finalidade de se criarem hábitos de atenção, concentração, exatidão,
coragem, paciência, discriminação e reconhecimento da excelência quer no pensamento quer na conduta; é um local onde a aprendizagem da vida adulta se faz de modo a haver o reconhecimento
e a identificação de si próprio noutros termos que não os das suas
circunstâncias imediatas. (...) ”

“É nesse mundo espiritual que a criança, mesmo nas aventuras mais precoces de sua consciência, se inicia; e iniciar seus alunos neste mundo é a tarefa do professor (…) O ensino é a iniciação deliberada e intencional de um aluno no mundo das relações humanas ou em uma certa parte dele. O professor é aquele cujas falas (ou silêncios) pretendem promover esta iniciação com respeito a um aluno (…) consequentemente, ele é também um agente de civilização. Mas sua relação direta é com o aluno. Seu compromisso é levar o aluno a conseguir o máximo de si mesmo, e a forma pela qual ele o faz e ensinando-o a reconhecer-se no espelho das realizações humanas que compõem sua herança espiritual.”

“(...) Sim, enquanto seres humanos somos todos self-made, mas não do nada e muito menos à luz da natureza(...)”.

“nascermos herdeiros e de só sermos capazes de compreensão do nosso legado, através da aprendizagem.”


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