terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Lope de Vega - Poesias Cantadas






Félix Lope de Vega y Carpio (1562-1635), fundador da comédia espanhola e autor de vasta obra (que abarca romances, peças de teatro, poesia épica e burlesca, livros religiosos e históricos, muitos irremediavelmente perdidos) viveu no Século de Ouro Espanhol (grande crescimento económico, provocado pela riqueza gerada pelas Grandes Navegações e exploração das terras do Novo Mundo). Época de grande ebulição política, religiosa e, principalmente, cultural. Neste último plano figuram Cervantes, Quevedo, Luis de Góngora, El Greco, Diego Velasquez, Zurbarán, Murillo e tantos outros... O escritor também foi secretário de duques, tornou-se sacerdote e oficial da Inquisição. Mesmo com os votos teve uma vida amorosa intensa, assim como períodos de sofrimento igualmente fortes. Espiritual e carnal, religioso e mundano ao mesmo tempo, sua obra reflete essas dimensões em versos que põem diante do leitor a contemplação da vida pastoril, o lamento pelos amores perdidos, a sátira de costumes e a busca pelo sagrado. Nas novelas do tempo de Lope de Vega era usual entremear a narrativa com músicas cantadas pelos personagens. Nos intervalos das apresentações teatrais tocar e cantar músicas inspiradas em poesias também era recorrente. O material deste cd do grupo Música Antiga da UFF provém deste contexto cultural.

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Música Antiga da UFF:

Kristina Augustin: viola da gamba e castanholas
Leandro Mendes: tenor e flautas doces
Lenora Pinto Mendes: viola da gamba e flautas doces
Mário Orlando: contra-tenor, viola da gamba e flautas doces
Márcio Paes Selles: barítono e viola da gamba
Virgínia Van Der Linden: flauta tranversa

Músicos convidados:

Sonia Leal Wegenast: soprano, percussão e harpa
Ronaldo Lopes: vihuela



1

Oy nace una clara estrella 4:10
Anônimo
2

La hermosa Maria 1:57
Anônimo
3

Mañanicas floridas 2:46
Anônimo
4

Amor loco, amor loco 3:53
Anônimo
5

El nacimiento del Alba 2:15
Anônimo
6

Filis del alma mía 2:32
Miguel de Arizo
7

La bella malmaridada 3:36
Gabriel
8

Ay amarga soledades 3:44
Anônimo
9

Mira Nero de Parpeya 2:11
Mateo Flecha
10

El maniana de San Juan 2:32
Diego Pisador
11

Recuerde el alma dormida 4:25
Juan Navarro
12

Di perra mora 4:06
Anônimo
13

Al villano se la dan 3:10
Anônimo
14

Paseábase el Rey Moro 2:24
Luiz de Narváez
15

Vida bona, vida bona 3:10
Juan Arañyes


Oy nace una clara estrella  (Anonimo)

Oy nace una clara estrella
tan dibina y celestial,
que con ser estrella, es tal,
que el mismo sol sale de ella
El alva más clara y bella
no le puede ser ygual,
que con ser estrella, es tal,
que el mismo sol nase de ella




La bella malmaridada   (Gabriel)

La bella malmaridada
de las más lindas que yo vi,
miembresete quan amada,
señora, fuiste de mi.
Mira cómo, por quererte,
tienes al cabo mi vida,
y, si tu fueras servida,
dichosa fuera mi suerte.
Mas, pues no te pena nada
quanto yo peno por tí,
miembresete quan amada,
señora, fuiste de mi.




Ay amargas soledades  (Anônimo)

!Ay amargas soledades
de mi bellíssima Filis,
destierro bien empleado
del agravio que le hize!
!Ay horas tristes,
quan diferentes soy del que vistes!



Vida bona, vida bona (Juan Arañyes)

Vida bona, la vida bona,
esta vieja es la chacona.
Primera de cuatro sietes
de qué sirve que te pongas
em la mano del mortero
em la majilla dos rosas?
¿De qué sirve que te hagas
tortuga entre blandas tocas
Y el molin negro
finjas gravedad e honra
De qué sirve que te mirles
y que te frunzas de boca,
si jugando con los años
ganastes por setentona?
Vida bona, la vida bona,
esta vieja es la chacona.
Vida bona, la vida bona,
vida, vámonos a la gloria.
Si Dios dijo que era Vida,
Camino y Verdad notoria,
¿Que vida será más buena,
Alma, entre las vidas todas?
¿Que camino como aquel
a donde el alma reposa,
pues, si de los cielos torna?
Esta tienen por verdad
divina y humana historia:
quien otro camino segue
va al infierno por la posta.
Vida bona, la vida bona,
vida, vámonos a la gloria.



segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Alexandre Koyré - Sobre nossas influências.



"Não podemos esquecer, ademais, de que a 'influência' não é uma relação simples; pelo contrario, é bilateral e muito complexa . Não somos influenciados por tudo aquilo que lemos ou aprendemos. Em certo sentido, talvez o mais profundo, somos nós mesmos que determinamos as influências a que nos submetemos, nossos ancestrais intelectuais não são de modo algum dados a nós; nós é que os escolhemos, livremente. Pelo menos em grande parte."

KOYRÉ, Alexandre Do mundo fechado ao universo infinito. Rio de Janeiro/Sao Paulo: Forense Universitária/Edusp, 1979 (Coleçao Campo Teórico)     p. 17

Christopher Lasch - A Cultura do Narcisismo.



Existem livros e autores que atravessam um período de efervescência, uma “idade de ouro”. São muito lidos e relidos, recomendados, criticados e absorvidos de maneiras diversas. No entanto, com o tempo, caem numa penumbra... Alguns, produtos de modismos intelectuais passageiros, onde, detectados sua superficialidade e inconsistência, são devidamente olvidados. Outros, textos fundamentais das ciências humanas, no caso do objeto desta resenha, por diversas razões não despertam o mesmo interesse de antes, apesar dos seus méritos.

É o caso de A Cultura do Narcisismo: A vida americana numa época de esperanças em declínio. (Rio de Janeiro: Imago, 1983) do historiador norte-americano Christopher Lasch (1932-1994). Publicado originalmente em 1979. Em que pese o subtítulo e passadas pouco mais de três décadas, seu diagnóstico do século XX é muito preciso e pode ser adaptado à outras realidades nacionais, todavia, com o devido discernimento crítico. De certa forma o processo de Globalização (ou Mundialização) tende a ser, sob certos aspectos, uma norte-americanização política, cultural, econômica etc.
Esgotadíssimo (1), um exemplar usado pode chegar a R$250,00 em sebos virtuais. 



Desse modo, fenômenos sociais e culturais como o Big Brother Brasil, o vício de se ver exposto em todas as redes sociais da internet, a literatura de auto-ajuda, jovens agredindo homossexuais na Avenida Paulista, pais que satisfazem todos os desejos das crianças e que se culpam por não conseguir isso (e ficam pesarosos em repreendê-los e dizer alguns nãos), a proliferação de chavões e chavões pedagógicos que mais confundem do que esclarecem, ganham inteligibilidade após a leitura atenta desta obra.
Trata-se de um texto de leitura exigente, onde o autor mobiliza recursos da psicanálise, sociologia e história social, política e econômica, buscando a precisão conceitual, alcances e limites dos diversos discursos analisados. Requer do leitor atenção constante e razoáveis conhecimentos de psicologia e dos demais saberes citados. Bastante erudito, como todo bom trabalho histórico, mobiliza recursos teóricos da Escola de Frankfurt (em especial Th. Adorno), o conceito de tolerância repressiva de Herbert Marcuse e também ideias de Guy Debord e sua "Sociedade do Espetáculo" (quando Lasch analisa a espetacularização da política e o apagamento da distinção entre realidade e ilusão, verdade e ficção). Há também críticas fundamentadas à obra de Erich Fromm e Erving Goffmnan.
“Cultura do Narcisismo” diz respeito ao modo como as sociedades capitalistas se estruturaram, material e simbolicamente, a partir da década de 1970. Trata-se de uma preocupação intensa com a realização individual, estreitamente relacionada com o universo do consumo e as inúmeras opções que são apresentadas aos indivíduos, em detrimento aos ideais coletivos. Ocorre, então, um retorno ao próprio eu e um desinvestimento nas relações com os outros e com o mundo da experiência. O mercado, a indústria cultural e a publicidade (que para Lasch é quase um sinônimo de propaganda) criam diversas necessidades e desejos a serem alcançados e consumidos: beleza, juventude, excelente desempenho sexual, segurança, sucesso profissional e financeiro, entre outros que se tornam fetiches destinados a apaziguar o narcisismo danificado. Utilizo este termo porque, o narcisismo não é somente uma condição patológica, ele desempenha um papel de protetor psíquico, permitindo que o sujeito equilibre a percepção de suas necessidades em relação às dos outros. No entanto, a configuração capitalista atual exaspera os traços narcísicos, impedindo a identificação mutua entre os indivíduos e enfraquecendo a busca pelo bem comum.
O narcisista possui uma consciência de si muito pouco desenvolvida, somada a enorme necessidade de se ver refletido nos outros. Ele reforça seu sentimento de existir medindo o impacto de seus qualidades sobre os outros. Dominado pela angústia (que predomina ou substitui sobre o sentimento de culpa) ele se refugia no hedonismo e no consumismo.


Para Lasch a “Cultura do Narcisismo” também é uma “cultura da sobrevivência de um mínimo eu” que confrontado com a perspectiva do conflito nuclear, da burocracia desumanizante, da onipotência das grandes corporações multinacionais e do assistencialismo estatal, do pessimismo e crise de confiança com relação à política e aos ideais comuns. Estes sentimentos de insegurança e desamparo obrigam os indivíduos a acionar suas defesas narcísicas como forma de sobrevivência.
Nas palavras de Lasch “a sociedade burguesa parece ter esgotado por toda a parte seu estoque de ideias construtivas. Perdeu tanto a capacidade como a vontade de se confrontar com as dificuldades que ameaçam subjugá-la. A crise política do capitalismo reflete uma crise geral da cultura ocidental, que se revela por um desespero difundido de compreender o curso da história moderna ou sujeitá-lo a uma direção racional.” 2

Compreender a dimensão psicológica articulada à social, apreendendo os traços narcísicos que aparecem na vida cotidiana constitui, portanto, o núcleo teórico-metodológico do livro. Trata-se de um trabalho de historiador que dialoga com a Sociologia, a Psicanálise e a Psicologia Social. Ainda mais porque a desvalorização da História (seja a História-saber ou a História compreendida como fatos do passado humano) é um aspecto fundamental da crise civilizacional de que trata o livro, pois:

“O narcisista não se interessa pelo futuro porque, em parte, tem muito pouco interesse pelo passado. Acha difícil interiorizar  associações felizes ou criar um estoque de lembranças amoráveis para enfrentar a última parte de sua vida, a qual, embora nas melhores condições, sempre traz tristeza e dor. Em uma sociedade narcisista (…) a desvalorização cultural do passado reflete não só a pobreza das ideologias predominantes, as quais perderam o pulso da realidade e cederam à tentativa de dominá-la, mas a pobreza da vida interior do narcisista. Uma sociedade que fez da 'nostalgia' uma mercadoria comercial, repudia, pelo lado cultural, a sugestao de que a vida no passado era, sob qualquer aspecto, melhor que a vida atual. Tendo trivializado o passado, ao igualá-lo a estilos ultrapassados de consumo, modas e atitudes, dos quais abriram mão, as pessoas, hoje em dia, ressentem-se de qualquer um que recorra ao passado para sérias discussões sobre as condições contemporâneas, ou que tente usar o passado como um padrão com que julgar o presente.
pseudo-progressista em favor do status quo. Contudo, sabemos agora – graças à obra de Christopher Hill, E.P. Thompson e de outros historiadores – que muitos movimentos radicais do passado extraíram força e sustento do mito ou memória de uma era áurea no passado ainda mais distante. Esta descoberta histórica reforça o critério psicanalítico de que as recordações amoráveis se constituem numa fonte psicológica indispensável na maturidade, e que aqueles que não conseguem recorrer às recordações de relações amoráveis no passado sofrem, como resultado, tormentos terríveis. A crença de que, em alguns aspectos, o passado foi um tempo mais feliz, de modo algum baseia-se numa ilusão sentimental; tampouco leva a uma paralisação retrógada e reacionária da volição política.” 3

A chave para a compreensão da “cultura do narcisismo” está na degradação do trabalho, em especial a partir da década de 1920. Naquela época houve a transição da prioridade dada à produção e produtividade para a prioridade ao consumo. A publicidade tomou a missão de convencer as pessoas de que a felicidade estava no lazer e na intimidade doméstica, e não mais no trabalho bem realizado. Assim estão colocados os alicerces do que chamamos de sociedade de consumo, onde são projetadas imagens de satisfação imediata, que se plenifica no consumo de bens, serviços e experiências:

“A propaganda de mercadorias serve a uma dupla função. Em primeiro lugar, ela defende o consumo como uma alternativa para o protesto e a rebelião. (…) O cansado operário, em vez de tentar mudar as condições de seu trabalho, procura a renovação ao tornar mais animado seu ambiente imediato, com novos bens e serviços.(...) Em segundo lugar, a propagando do consumo transforma a própria alienação uma mercadoria. Ela se dirige à desolação espiritual da vida moderna e propõe o consumo como sendo a cura. Ela não somente promete diminuir todas as velhas infelicidades , das quais a carne é herdeira; cria ou exacerba novas formas de infelicidade – insegurança pessoal, ansiedade pelo status, ansiedade dos pais sobre sua capacidade de satisfazer às necessidades dos mais jovens. Parece fora de moda perto de seus vizinhos? Seus filhos tem tanta saúde quanto os deles? São tão populares? Saem-se tão bem na escola? A publicidade institucionaliza a inveja e suas ansiedades resultantes.” 4

Outro elemento importante, consequência da cultura narcisista é o fato da sociedade ter se tornado “terapêutica”, em ritmo crescente nas décadas finais do século XX. A educação dos filhos, relacionamento entre os cônjuges, a vida escolar e o cotidiano do ambiente de trabalho é mediado pela perspectiva terapêutica, seja da psicologia e/ou da psiquiatria, enfatizando a “autenticidade”, a “criatividade” (que parece vir do nada ou melhor, dispensaria a disciplina intelectual e esforço próprio), o “otimismo”, as chamadas “críticas construtivas”. Tudo isto só encobre os conflitos e problemas mais profundos sob superfície de “consenso” e “harmonia”. Esta nova configuração social necessita de um novo tipo de controle social, mais sutil, pois:

“A popularização dos modos terapêuticos de pensamento desautoriza a autoridade, em especial no lar e na sala de aula, enquanto existe a dominação sem críticas. As formas terapêuticas de controle social, ao abrandar ou eliminar a relação adversa entre subordinados e superiores, torna cada vez mais difícil para os cidadãos defender-se contra o Estado, ou para os operários resistir às demandas da corporação. À medida que as ideias de culpa e inocência perdem seu sentido moral e até meso legal, os que estão no poder não mais impõem suas regras por meio de éditos autoritários de juízes, magistrados, professores e pregadores. A sociedade não mais espera que as autoridades articulem um código de leis e de moralidade claramente racional e elaboradamente justificável; tampouco espera que o jovem interiorize os padrões morais da comunidade. Exige somente conformidade às convenções das relações cotidianas, sancionada por definições psiquiátricas do comportamento normal.” 5

Esta ideia de “sociedade terapêutica” e/ou “Estado terapêutico é um tanto tributária dos pensamentos de Ivan Illich, o célebre teórico da desescolarização e criador do termo “medicalização da sociedade”. Cabem algumas observações; certamente não se trata de uma junta de médicos e psicólogos que se reuniram na calada da noite maquinando planos maquiavélicos de dominação política e social. Seria uma análise de um primarismo abissal e estaria coisificando os saberes médicos e psi, que possuem sua pertinência em si mesmos. Como se não existissem psicólogos e psiquiatras conscientes do uso indevido de suas ciências. São as relações de poder entre indivíduos e instituições que se apropriam e mobilizam conceitos utilizados por estes profissionais em contextos precisos e específicos para o uso em certos fins. Esta socialização de conceitos psiquiátricos, psicológicos e mesmo psicanalíticos serve para despolitizar o cotidiano, transformando o que era uma questão de luta e negociação política num mero problema técnico, a ser resolvido conforme esquemas pré-determinados. De qualquer forma a “psicologização” de aspectos do cotidiano ocidental é evidente, ainda que tal conceito deva ser melhor refinado.


Christopher Lasch vê certa ambiguidade no movimento feminista. De um lado empreendeu críticas e atitudes de mudanças urgentes com relação ao mundo do trabalho, das relações entre os sexos e destacou aspectos que a esquerda e sindicalismo tradicionais não deram importância. Por outro lado também está imerso no narcisismo contemporâneo, ainda que involuntariamente, em certos casos, alimentando a ilusão de uma sociedade andrógina, sem diferenças essenciais entre os gêneros. Há também a questão do enfraquecimento da estrutura familiar, com o apagamento da figura paterna, fragilização do vínculo conjugal, mães com enormes jornadas de trabalho (doméstico e fora de casa); situação que perpetua a dependência do mercado de “especialistas” em criação de filhos, convivência doméstica e sexualidade.

Muito se escreveu sobre o estatuto ideológico do autor. O fato de um intelectual de esquerda ser extremamente crítico quanto a sua tradição política ( inconsistências, pontos cegos que não levam a caminho algum) não deveria causar estranheza. Não demorou muito para a criação de uma imagem de conservador e reacionário, direitista, nostálgico de sociedade burguesa do século XIX, ou mesmo do mundo aristocrático pré-Revolução Francesa, antifeminista, elitista e outras qualificações. Na maioria das vezes, estes juízos negativos são produto de uma leitura desatenta e preguiçosa, ou simplesmente má-fé, profundo desconforto de quem compreendeu as implicações das análises de Lasch e se recusa a refletir, preferindo recorrer à desqualificação intelectual, política e argumentos ad hominem, amesquinhando a discussão. Lamentavelmente parte do pensamento de esquerda considera persona non grata quem pensa diferente ou discorda de suas posições, preferindo este expediente cômodo da arrogância e detratação do outro. O estilo de Lasch e sua estratégia de argumentação são um tanto elípticos, com elementos importantes a serem apreendidos nas entrelinhas. Uma leitura mais apressada pode nos levar a uma conclusão totalmente diversa àquela pretendida pelo autor. Essa forma de exposição seguramente provocou muitas incompreensões desnecessárias.

Minhas críticas? Em especial a dois aspectos. Primeiro, há um excessivo apego ao ideário de Theodor W. Adorno quanto a onipresença da indústria cultural. Nada de errado em privilegiar a cultura erudita, elaborada, mais complexa, na formação das novas gerações. O dispositivo escolar deve abranger principalmente o que não é imediatista e facilmente apreendido. O famoso slogan “a educação deve partir da realidade do aluno” já estragou muito o trabalho formativo. Nem se deve minimizar o poder homogenizante da máquina ao uniformizar e propor gostos sem o devido espaço para a crítica, o enfraquecimento e destruição de culturas minoritárias, etc... Todavia, a fronteira do erudito e o popular não é rígida, e há diálogos e influências recíprocas. O receptor não é tão submisso, passivo ao sistema midiático, mesmo em relação à propaganda, embora seu grau de sedução seja grande e não deve de forma alguma ser subestimado. Ele reinterpreta as mensagens e, sob certas condições resistir frente a elas (como podemos observar nos estudos de Michel de Certeau). Em segundo lugar, um refinamento maior na percepção em torno do relacionamento indivíduo e sociedade poderia ser conseguido ao se apropriar da sociologia de Norbert Elias. Desse modo a análise poderia ser menos mecânica em algumas passagens: o sujeito nem sempre está eternamente constrangido pelo aparelho estatal e este nem sempre está a mercê de interesses particulares. Sem negar a força da burocracia e suas defesas e constrangimentos, o Estado é parte da sociedade e não externo à ela, podendo ser um campo de lutas, em que mobilização social, após muito esforço, pode conseguir fazer valer seu direitos. Portanto nada é homogêneo e há sempre conflito.

É corretor afirmar que "A Cultura do Narcisismo." envelheceu um pouco, mas isto não é um demérito no campo das ciências humanas. no geral, mantém-se perene, dialogando com autores mais em voga hoje como Pierre Bourdieu, Michel Foucault, Jean Baudrillard, Gilles Lipovetsky, Zygmunt Bauman, entre outros. Aliás, Lasch foi contemporâneo deste cinco pensadores 6 , ainda que não os cite todos nominalmente, é possível  encontrar ecos deles em seus escritos, sempre criticamente. Para concluir, um clássico altamente recomendável, a ser relido ou descoberto, apesar do sabor de desolação e de grandes oportunidades perdidas que ele deixa,  de maneira alguma produz imobilismo ou niilismo.


Link para baixar: Mega

Notas:
1. Dos livros de Christopher Lasch traduzidos para o português, além da Cultura do Narcisismo, também estão fora de catálogo:  Refúgio num mundo sem coração. A família: santuário ou instituição sitiada?  Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1991, O Mínimo Eu -  A Sobrevivência psíquica em tempos difíceis. São Paulo: Brasiliense, 1986,  A rebelião das elites e a traição da democracia. Rio de Janeiro: Ediouro, 1995. Somente A Mulher e a Vida Cotidiana: Amor, Casamento e Feminismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999 está disponível nas grandes livrarias.
2. A Cultura do Narcisismo: A vida americana numa época de esperanças em declínio, p.11
3. op. cit,  pp.15-16
4. op. cit., p.103
5. op. cit, p.227
6. É perceptível certa influência de Foucault, quando Lasch descreve a nova configuração do controle social.


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Longa Florata - Annua Gaudia: A Música do Caminho de Santiago.




Santiago de Compostela foi o principal centro de devoção no ocidente cristão do século XII. Este cd reúne cânticos medievais produzido neste contexto de peregrinação. Estes cânticos estão documentados no Códice Calixtino, junto com peças compostas no Mosteiro de La Huelgas, na rota de peregrinação jacobéia e relatos de algus milagres marianos ocorridos com peregrinos, do Cancioneiro de Alfonso X, de Leão e Castela. Talvez cause estranhamento a predominância de cânticos marianos numa obra dedicada ao Caminho de Santiago. Contudo, não é difícil perceber a força da devoção à Mãe de Jesus na tradição católica, especialmente no medievo. Há um aspecto histórico-antropológico importante, para o culto mariano foram encaminhados antigos ritos dedicados a divindades femininas das culturas ibéricas (assim como em outras partes da Europa). Quiçá, naqueles dias, concomitantemente à este processo de cristianização ainda perdurasse venerações à estas deusas arcaicas... Além disso, nas estradas para Compostela existiam vários santuários dedicados à Virgem Maria, devoção muito presente na catolicidade galega.
O cd Annua Gaudia foi produzido em 1999 pelo Núcleo de Estudos Galegos da UFF, com apoio do Programa de Estudos Galegos da UERJ,  pelo conjunto de música antiga Longa Florata, com participação de componentes do Música Antiga de Universidade Federal Fluminense (UFF) e outros artistas convidados, contando com  patrocínio da Xunta de Galícia.

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Integrantes do Longa Flotata:

Lenora Pinho Mendes - vielas de arco e de roda
Leonardo Loredo - barítono, oud e buzuk
Márcio Paes Selles - barítono, flauta
Sônia Leal Wegenast - soprano, harpa e percussão

Músicos convidados: Pedro Hasselmann Novaes, viela de arco e gaita de fole,
Peri Santoro, barítono.
Participação: Emília Cassiano, soprano
Marcus Vinícius Urago, tenor
e
Rebeca Pinheiro, soprano
Kátia Dias, soprano.



1.      De grad' a Santa Maria   -  Afonso X;  1:46
2.      Annua Gudia    -   Codex Calixtinus; 3:30
3.      Psallat Chorus   -  Codex Calixtinus;1:24
4.      Congaudeant Catholici   -   Codex Calixtinus; 3:20
5.      Non é gran cousa   -   Afonso X ; 8:37
6.      Non dev' entrar null' ome    -  Afonso X; 5:53
7.      A Virgen Santa Maria    -   Afonso X; 8:21
8.      Maria Virgo    -   Codex de Las Huelgas; 3:40
9.      Eya Mater Fidelium   -   Codex de Las Huelgas; 7:23
10.    Cleri Cetus     -    Codex de Las Huelgas; 1:44
11.    Non sofre Santa Maria   -   Afonso X; 5:59

Jean Piaget - Objetividade


"A objetividade consiste em tanto tomar consciência das intromissões incontestáveis do próprio ser em todos os pensamentos e ilusões incontáveis daí resultantes - ilusões de sentido, linguagem, ponto de vista, valor, etc - que o primeiro passo na elaboração de cada juízo consiste no esforço para excluir a intromissão do próprio (...) Enquanto o pensamento não se tiver tornado consciente  do próprio ser, será a vítima de confusões perpétuas entre objetivo e subjetivo, entre o real e o ostensível."

Jean Piaget apud
SAYERS, Janet   
“Feminismo e ciência.” In  ROSE, Steven, APPIGNANESI, Lisa (orgs.) Para uma nova ciência. Lisboa: Gradiva, 1989 (Ciência Aberta, 30)    p.220

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Reflexões sobre História, Mitos e Heróis.

 
 
O mito, por vezes, tem sido abordado em sua negatividade. Dimensão a-histórica, estática. Situado no reino da ilusão, da mentira e do engano. Assim como a tradição, outro conceito confusamente considerado, seja para ser elogiada, defendida ou para ser pura e simplesmente abolida; contendo sempre a mesma carga de conservadorismo e conformismo. Não obstante estudos de historiadores e cientistas sociais(1) como Christopher Hill, E. P. Thompson, Carlo Ginzburg, Michael Taussig, Raoul Girardet, Christopher Lasch, Michael Löwy, entre outros, tem demonstrado que o mito, a tradição (religiosa, popular, de um passado distante...), bem como as narrativas fabulosas de diferentes épocas e lugares, podem também servir de fonte para projetos políticos utópicos e radicais, da contestação da ordem hegemônica, reivindicações de maior justiça social, liberdade... Reflexo de descontentamentos, dificuldades, miséria e desconforto material e psíquico. Desta forma, a tradição e as recordações positivas do passado são sempre evocadas em momentos de crise e ruptura, sendo suporte para alguns movimentos progressistas de crítica e projetos frente à situação presente.
Entendo o mito como um modo de comunicação, uma linguagem simbólica, forma de dizer as coisas de maneira indireta, conotativa, sintética, que se constitui de maneira complexa, em múltiplas e sucessivas sobreposições; mas, nem por este motivo está isento de uma historicidade, de contradições, da interdependência com processos sociais, históricos e culturais...Dessa forma, o mito é dotado de uma materialidade (e maleabilidade) pois variações nas narrativas acontecem, impulsionadas por diversas influências e condicionantes. Em resumo, o mito é uma construção social, produto de relações históricas que devem ser desentranhadas pelas operações do historiador. Como assinala o arqueólogo italiano Andrea Carandini: “Explicitar a lógica de um mito, cuja natureza aparente é frequentemente disforme, e compará-la com a lógica consequente de um acontecimento histórico é uma operação árdua, mas não inadmissível, se os mitos orientam e favorecem algumas ordens sociais, (…), poderia acontecer também o contrário. Talvez os mitos indiquem o que poderia ter acontecido, o âmbito da possibilidade / probabilidade, mas às vezes podem também ter englobado o fato de uma época, a exemplo da fundação de uma habitação. Estas verdades 'lógicas', mesmo se não 'narrativas', que os mitos podem chocar em seu seio, longe de serem inúteis ao historiador, podem ajudá-lo a entender a natureza das épocas mais longínquas.” (2)


Todavia, o mito, do mesmo modo que a ciência, a técnica e a religião, pode ser veículo de finalidades espúrias. Seria uma grande desonestidade intelectual negar ou minimizar esta condição. “Não se pode ignorar que o mito, por sua capacidade cognitiva e este potencial mobilizador é confiável instrumento para legitimar instituições, status, relações de autoridade, formas de dominação. Se a cultura é o universo das mediações de sentido, do valor, o direito à cultura é basicamente um direito à diferença. Mas o direito à diferença tem sido com frequência utilizado para eliminar a alteridade, as diferenças do outro. Que o digam as guerras santas, as purificações étnicas e os estigmas sociais. O mito pode ter como destinação a produção e, sobretudo, a reprodução de assimetrias no mundo social. Não é o mito, porém, que produz a dominação; imaginar essa vocação seria reificá-lo. São os homens, as relações que os homens estabelecem entre si que o conduzem a este rumo.” (3)
O herói também possui esta dubiedade semelhante ao mito, e, ao meu ver, talvez seja ainda mais problemático pois, de maneira geral o imaginário está centrado apenas numa pessoa.
Termo polissêmico, herói pode designar alguém que realizou feitos extraordinários, quase sobrenaturais, pessoa famosa por seus feitos guerreiros, vencendo enormes dificuldades; uma pessoa que é o centro das atenções, ou também o protagonista de uma narrativa (lendária, hagiográfica, um romance, filme, peça de teatro, ópera ou história em quadrinhos), ou finalmente o herói da vida cotidiana, que enfrenta enchentes, trânsito caótico, o tédio das filas e da burocracia ou, ainda, administra um orçamento apertado para sua sobrevivência...
Da mesma forma que o mito, o herói funciona como um referencial para a estruturação e reprodução de uma sociedade; fonte para a constituição de identidades, valores, ideais (tradições, costumes, liderança militar, mito fundador de uma comunidade ou nação), legitimação de poderes, leis e posses, garantindo assim a manutenção simbólica e imaginária das sociedades.


Desse modo o herói é aparentado e por vezes se confunde com o mártir, o santo, o missionário, o cientista, o revolucionário... Os chamados “grandes homens”, imbuídos de um heroísmo inconsciente (fizeram o bem, mas sem saber...), sentido de missão (mesmo atuando numa esfera secularizada). Ele pensa que está apenas expressando sua singularidade, mas é veículo da realização de determinados princípios universais, do qual depende a evolução/transformação de uma sociedade.

Devemos observar a relatividade, a historicidade do status do herói. Quem foi considerado herói por um determinado povo ou grupo social (ou mesmo no interior de uma sociedade) pode não ser para outros, pelo contrário: pode ser até um inimigo, um tirano. Em dado período, principalmente após bruscas mudanças políticas, sociais, culturais e econômicas, aquele que era tratado como herói vira “inimigo” (do povo, da nação, da tradição, da ordem social recém-estabelecida...) tornando-se figura “maldita” que deve ser esquecida, apagada da memória (por exemplo,a damnatio memoriae dos romanos, e outras formas de remoção da lembrança, seja através da educação dos pequenos, censura, destruição de documentos e monumentos, perseguição e eliminação física de seus seguidores), ou quando lembrada, sendo considerada um exemplo a não ser seguido.
De outro modo, pode-se acrescentar novos elementos à biografia do herói; qualidades que não haviam sido antes enfatizadas (ou que simplesmente não existiam), ou a incorporação de características de outros personagens cultuados, a associação com outras figuras célebres, sagradas, segundo as necessidades de cada configuração social. Concomitantemente pode-se omitir ou anular certas passagens e características da personalidade do herói que não são considerados “adequados” , “edificantes”, ou seja, “comprometedores” para a ordem política/moral/religiosa vigente.


O mito está enganchado à ilusão. Tomo esta palavra no sentido que Sigmund Freud (4), lhe deu : um mecanismo de defesa contra o reconhecimento do teor transitório e frágil da existência humana, desejo de negar o conflito, o desamparo, becos sem saída e as imposições do princípio de realidade. Todavia, devemos prestar atenção em algo fundamental: a ilusão possui um movimento dialético, o conflito entre o princípio do prazer e o princípio de realidade que é elemento estruturador das formações culturais e da constituição da subjetividade. Nas palavras do fundador da psicanálise: “Quando digo que todas essas coisas são ilusões, devo definir o significado da palavra. Uma ilusão não é a mesma coisa que um erro, nem tampouco um erro. (...) O que é característico das ilusões é o fato de derivarem de desejos humanos. (...) As ilusões não precisam ser necessariamente falsas, ou seja, irrealizáveis, ou em contradição com a realidade (...) Podemos, portanto, chamar uma crença de ilusão quando uma realização de desejo constitui fator proeminente em sua motivação e, assim, procedendo, desprezamos suas relações com a realidade, tal como a própria ilusão não dá valor à verificação.”(5)

Bertold Brecht considerava infelizes os povos e épocas que precisavam de heróis. Esta afirmação severa dura tem fundamento, dada à reificação e manipulação da dimensão mítica para fins de dominação. Mas não é possível extirpar os mitos e as ilusões das sociedades humanas (seria pernicioso e empobrecedor). O que se pode fazer é apreendê-las criticamente com nossa racionalidade e não perder de vista a relação com a realidade. Desconstruindo seus dispositivo conforme necessário, podando ou neutralizando seus elementos destrutivos e se apropriar de seus frutos promissores para a formação material e simbólica das sociedades humanas. Sem esquecer a ambiguidade que eles carregam. Seus laços com o engodo, o obscurecimento das relações de força: “mito da democracia racial”, “mito da neutralidade científica”, “mito do estado-providência”, “mito do bom-selvagem”, “mito do mercado auto-regulável” e tantos outros.

Como trabalhar estes elementos em sala de aula? Aqui estão alguns apontamentos sem pretensão de verdade absoluta e infalível:
Dar voz a outros segmentos sociais (ou seja, “heróis” de outros grupos: mulheres, trabalhadores, escravos, índios, negros, migrantes e imigrantes, professores,estudantes, artistas e intelectuais perseguidos) que não são mencionados pelas historiografias dominantes, ou são apresentados de forma superficial, pejorativa e preconceituosa, contrapondo às visões canônicas outros movimentos paralelos . No entanto, é importante não idealizá-los (transformando-os num poço de virtudes, sem contradições e defeitos), mitificando suas resistências e omitindo aspectos autoritários e discriminadores que os chamados “excluídos” também possuem. Reproduzindo os mecanismos de poder ao contrário...A História possui infinitas gradações de cinza, não é constituída de “bons” e “maus”.

É interessante observar os procedimentos de heroificação, ou mesmo certa divinização, de determinadas categorias profissionais como médicos, engenheiros, advogados e juízes, que, aos olhos de alguns seriam superiores às demais corporações profissionais e ao assim chamado “cidadão-comum”.

Aos heróis são vedados momentos de incerteza e hesitação (6). Devemos, pois desnaturalizar, humanizar a figura do herói. Mostrar que ele não fez tudo sozinho, possuía dúvidas, contradições, qualidades e defeitos lutava contra demônios interiores e desejos inconfessáveis, e não raro, sucumbia a estes... Inserir estes personagens nas tramas dos processos sócio-históricos, na rede de interdependência entre os seres humanos e relações de poder. Mostrar o conflito de representações e leituras que envolvem a figura do herói, efetuada por diferentes facções políticas, religiosas e concepções historiográficas.

Muitos heróis (de uma mesma sociedade, próximos ou distantes no tempo) são representados harmoniosamente em pinturas, cartazes, desenhos, esculturas, instalações entre outros suportes, dispostos um ao lado do outro, quase sempre com a mesma expressão facial e postura corporal (exibindo altivez ou serenidade). Se por algum feitiço fossem colocados numa mesa de debates, dificilmente se comportariam tão amigavelmente quando confrontados em suas visões de mundo, projetos políticos, econômicos... Diferente da imagem harmônica, que simula consenso, construída em torno de suas memórias, mostrando como o imaginário do herói encobre os conflitos sociais.

Em suma, ressaltar a historicidade dos mitos, resultado de uma construção social, atentando para as lutas entre diferentes grupos sociais (elites e camadas médias e populares) bem como os conflitos internos entre estes mesmos grupos, envolvidos nos processos de construção e canonização de seus heróis. Compreendendo os princípios de classificação e legitimação de identidades e sua eficácia social. E, o que é muito importante, mostrar que a “construção” e “destruição” de mitos e heróis é algo permanente.


Observação: Esta é a versão definitiva, revista e ampliada, portanto com mais elementos que a postada em 09/01/11.  Elaborei este texto no longínquo ano de 2001, mais precisamente no segundo semestre, entre agosto e setembro. Fazia parte de um projeto de estágio realizado no Museu Paulista da USP, durante minha licenciatura em História. Tratava-se de abordar o imaginário da Independência a partir do acervo do museu e depois trabalhar com uma turma do ensino fundamental. No entanto, meu grupo mudou o tema do projeto para a questão do processo de urbanização de São Paulo e este escrito ficou guardado... Meus colegas o elogiaram muito, o que me envaidece...Vez por outra eu o relia. Depois ficou arquivado vários anos. Quando criei o blog já tinha certa vontade de publicá-lo. Até que finalmente... A maioria dos parágrafos foram mantidos tal como deixei, certos excessos cortados, algumas passagens foram retiradas, outras acrescentadas, como o tema da ilusão, que não foi aprofundado na época.  Não é uma revisão radical, pois respeitei meu pensamento em formação naquele período.  Talvez os parágrafos sejam demasiadamente longos e um pouco repetitivos. Gostava, e ainda aprecio, de definições precisas e conteúdo sólido. De maneira alguma me envergonho disto. De qualquer forma, espero que algumas ideias fiquem melhor esclarecidas. Tenho enorme respeito pela tradição mítica e religiosa da humanidade, mas cultivo um racionalismo e ceticismo abertos, sem dogmatismos. Para mim, a última palavra é do logos.

Notas:

(1)Christopher Hill O mundo de Ponta-Cabeça: Ideias radicais durante a Revolução Inglesa de 1640. São Paulo:Companhia das Letras,1987;E. P. Thompson Costumes em Comum: Estudos Sobre a Cultura Popular Tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998; Carlo Ginzburg Os Andarilhos do Bem:feitiçaria a cultos agrários nos séculos XVI e XVII. São Paulo: Companhia das Letras,1988; Michael Taussig Xamanismo, Colonialismo e o Homem Selvagem: Um Estudo Sobre o Terror e a Cura. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1993;Raoul Girardet,Mitos e Mitologias Políticas. São Paulo: Companhia das Letras, 1987;Christopher Lasch A cultura do narcisismo: a vida americana numa era de esperanças em declínio. Rio de Janeiro:Imago, 1983; Michael Löwy Redenção e Utopia: o judaísmo libertário na Europa Central. São Paulo: Companhia das Letras, 1989    (notar a influência de Walter Benjamin em Taussig e Löwy)
(2) Carandini, Andrea La nascitá di Roma. Dèi, Lari, eroi e uomini all' alba di uma civiltà. Parte Prima: Il metodo della ricerca. Tradução da introdução para fins didáticos.
(3)Bezerra de Menezes, Ulpiano “Mito e museu: reflexões preliminares.” in  FÉLIX, L.; ELMIR, C. Mitos e heróis: construção de imaginários. Porto Alegre: UFRGS, 1998 p. 47-48.
(4)Sigmund Freud O futuro de uma ilusão. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. XXI, pp. 13-71). Rio de Janeiro: Imago, 1974 (Texto original publicado em 1927) e Ansiedade e vida instintual [Novas conferências introdutórias sobre a Psicanálise]. In Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. XXII, pp. 103-138). Rio de Janeiro:Imago, 1976 (Texto original publicado em 1933)
(5) Sigmund Freud O futuro de uma ilusão,1974. p. 43
(6) Estou me referindo especialmente aos heróis nacionais. No tocante ao campo da ficção é notória a existência da figura do anti-herói e os próprios super-heróis passaram, a partir da década de 1970, por reformulações, onde lhes foram acrescentados elementos humanizadores, inquietações existenciais, o direito de errar e mesmo questionar sua missão... Nem os jogos de RPG utilizam personagens “quadradinhos”.

Bibliografia básica: 

Sobre a temática do herói:

CAMPBELL, Joseph  O herói de mil faces, São Paulo, Editora Cultrix/Pensamento, 1995.
HOOK, Sidney    O herói na história.  Rio de Janeiro: Zahar, 1962.
SEFFNER, Fernando O herói e o mito no espaço da sala de aula de história: algumas impressões. In: FÉLIX, L.; ELMIR, C. Mitos e heróis: construção de imaginários. Porto Alegre: UFRGS, 1998. p. 195-205.

Sobre o mito:

CASSIRER, Ernest   Linguagem e mito. São Paulo: Perspectiva, 1985
LÉVI-STRAUSS, Claude Mito e Significado.  Lisboa: Edições 70, 1987
VERNANT, Jean-Pierre  Mito e pensamento entre os gregos: estudos de psicologia histórica. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990

sábado, 1 de janeiro de 2011

Halford - Slow Down



Para começar bem 2011 com uma música poderosa, Slow Down, com letra, tradução e  áudio em modo "EMBED".  Slow Down é a minha faixa preferida de Resurrection, álbum que Rob Halford lançou com sua banda solo em 2000 após um período ruim. A letra está longe de propor um otimismo exagerado, mas também não é pessimista. Trata de tentar manter a calma e encarar as situações da existência de espírito aberto, sem subterfúgios, por mais difíceis que sejam . Daí você pode planejar seu ano com mais serenidade e consciência, sem ilusões.

Um bom 2011 para todos!

Slow Down, composição de Rob Hallford,Bob Marlette e Roy Z

Let it be
Still my anger
Bring me peace
From my temper

I´m trying every way I can
I´m doing wrong I understand

Let it be - slow down
Watch the pressure fall
Bring me peace - slow down
I can´t have it, I can´t have it all

Break the strain
Feed my hunger
Tell my mind
To be stronger


I´ve got to move and make it real
I´ve got to make myself a deal

Brake this strain - slow down
Give up what I crave
Tell my mind - slow down 
Watch what I can, watch what I can save

Will I rise
Out of shadow
Staying calm
Feeling hollow

I´m here to give me one more chance
That choice is resting in my hands, yeah...


Let it be - slow down 
Watch the pressure fall
Bring me peace - slow down 
I can´t have it, I can´t have it all

Brake this strain - slow down 
Give up what I crave
Tell my mind - slow down 
Watch what I can, watch what I can save



Vá mais devagar

Deixe ser
Ainda que minha raiva
Me traga paz
Para meu temperamento

Eu estou tentando de todas as formas
Eu entendo que estou fazendo errado

Deixe ser - vá mais devagar
Veja a pressão cair
Traga-me paz - vá mais devagar
Eu não posso ter, não posso ter tudo

Quebre a tensão
Alimente minha fome
Diga à minha mente
Para ser mais forte

Eu tenho que me mover e fazer isto real
Eu tenho que fazer um trato comigo mesmo

Quebre a tensão - vá mais devagar
Desista do que eu anseio
Diga à minha mente - vá mais devagar
Veja o que eu posso, veja o que posso salvar

Eu vou me erguer
Das sombras
Ficando calmo
Me sentindo vazio

Eu estou aqui pra me dar mais uma chance
Aquela escolha está em minhas mãos, yeah...

Deixe ser - vá mais devagar
Veja a pressão cair
Traga-me paz - vá mais devagar
Eu não posso ter, não posso ter tudo

Quebre a tensão - vá mais devagar
Desista do que eu anseio
Diga à minha mente - vá mais devagar
Veja o que eu posso, veja o que posso salvar