"Não podemos esquecer, ademais, de que a 'influência' não é uma relação simples; pelo contrario, é bilateral e muito complexa . Não somos influenciados por tudo aquilo que lemos ou aprendemos. Em certo sentido, talvez o mais profundo, somos nós mesmos que determinamos as influências a que nos submetemos, nossos ancestrais intelectuais não são de modo algum dados a nós; nós é que os escolhemos, livremente. Pelo menos em grande parte."
KOYRÉ, Alexandre Do mundo fechado ao universo infinito. Rio de Janeiro/Sao Paulo: Forense Universitária/Edusp, 1979 (Coleçao Campo Teórico) p. 17
3 comentários:
Essa sentença de A. Koyré me leva a concluir que no frigir dos ovos, a concepção filosófica que vai me influenciar é uma escolha que faço entre pensamentos de vários filósofos; acabo ficando com aquela que me é mais simpática. E aí entra outro Alexandre, o A. Herculano: "Eu não me envergonho de corrigir os meus erros e mudar de opinião, porque não me envergonho de raciocinar e aprender."
Grato pelo comentário.
Acredito que Koyré salientou a complexidade desse processo. Parece que "simpática" implica em "mais fácil", "mais conveniente" ao que se está discutindo ou investigando;algo demasiado eclético e inconsistente. Existe tal risco, todavia não vejo necessariamente dessa forma. Lembra algo como uma "caixa de ferramentas" - isto é, teorias e conceitos - que colhemos de vários autores e que podem ser utilizadas, reelaboradas, criticadas e mesmo abandonadas de acordo com as questões e problemas que enfrentamos. Do mesmo modo nos ajudam a refinar nossos pensamentos, conforme a citação de Herculano que você postou.
Abraços virtuais.
Marcelo, lendo seu comentário, vejo que empreguei mal a palavra "simpática". Melhor teria sido se eu tivesse refletido um pouco mais e escrito que "é uma escolha que faço entre pensamentos de vários filósofos, acabo ficando com aquela ideia que mais me obriga a me manter alerta em relação aos valores e crenças que professo. Nada de "mais fácil" ou "mais conveniente". SE assim fosse, seria apenas a busca de confirmações a preconceitos arraigados. E é justamente o oposto que deve ser buscado nas influências a que nos submetemos, um perene desafio à nossa inteligência, um constante chacoalhar de nossas convicções.
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