segunda-feira, 25 de julho de 2011

Philip Glass : Akhnaten



Tomei contato com esta obra de Philip Glass (cujo download disponibilizo para os leitores) pela primeira vez em 1992, através da rádio Cultura FM, que havia preparado uma apresentação bastante caprichada desta ópera. O programa contava com a apresentação da obra na íntegra, com depoimentos do próprio Philip Glass, do historiador Shalom Goldman, que colaborou na pesquisa e composição do libreto e do diretor de teatro Gerald Thomas. A tradução em português das narrações do escriba foram feitas pelo saudoso locutor Gilberto Rocha. Era uma reprise, de um evento feito  pela emissora em 1988, se não me engano.

Akhenaten é uma ópera em três atos para orquestra, coro e solistas com música de Philip Glass, composta entre 1982 e 1983, sob encomenda Orquestra da Ópera Estatal de Stuttgart, que estava sendo reestruturada. O libreto foi elaborado por Philip Glass , em associação com Shalom Goldman,  Robert Israel e Richard Riddell . O texto vocal foi elaborado a partir de fontes originais por Shalom Goldman . Interpretada pelo Coro e Orquestra da Ópera Estatal de Stuttgart, em 1984, com direção de Dennis Russell Davies. Infelizmente não existem vídeos ou filmes desta montagem, cujas gravações foram lançadas em cd, em 1987, pela CBS.

Akhnaten (ou Akhenaton) foi um faraó da XVIII Dinastia egípcia (começou a reinar por volta de 1364 a. C.). Parte da historiografia credita a este faraó  uma reforma religiosa que teria instituído uma religião monoteísta na sociedade egípcia, tradicionalmente politeísta. Alterou o seu nome, Amenhotep , pois continha o nome de Amon, deus soberano de Tebas, para Akhnaten (que significa "do agrado de Aton"). Sem desmerecer a possibilidade de alguma sinceridade em criar uma nova espiritualidade, não se pode negar que existiam fatores como a necessidade de concentrar o poder na figura do faraó, ou para apenas retirar o poderio dos sacerdotes. Desse modo, Akhenaton instituiu o deus Aton como a única divindade que deveria ser cultuada, sendo o próprio faraó o único representante e mediador dessa divindade. Ao contrário de outros deuses que eram representados por ídolos antropomórficos, humano ou semi-antropomórficos, Aton foi o primeiro conceito totalmente abstrato de Deus, representado pelo disco solar. Entretanto, após 17 anos de governo, esta reforma foi desconstruída vigorosamente pelos nobres e sacerdotes de Amon, que lhe faziam oposição, retornando os cultos anteriores, impossibilitando o faráo de tentar algum acordo com o clero de Amon. E sua memória foi apagada da história do Egito, embora as circunstâncias de sua morte ainda sejam meio nebulosas.

A força do mundo natural adorada mais freqüente era o sol. Seu poder era representado pela cabeça de falcão deus Hórus, pela figura humano-divina de Atum ou pelo besouro de esterco Kheper. O sol também tinha uma designação secular - Aton - que simbolizava o disco próprio sol. O palco foi assim definido para a introdução de Akhnaten do aten como a manifestação do poder supremo do universo.

Todavia, esta revolução religiosa deve ser mais matizada, pois não se tratou de uma reforma propriamente monoteísta , pois os outros deuses (Rá, Osiris e tantos outros) não caíram no ostracismo, banidos do panteão. Apenas ficaram atrás de Atón. O próprio Hino a Aton, síntese da doutrina de Akhnaten, menciona a participação de outras divindades. Assim, apenas o nome de Amon foi abolido, reunindo sobre Aton, todos os poderes da criação, lembrando que o faraó era o único e legítimo mediador de Aton, que produzia um culto do rei ainda vivo. [cf. Paolo Scarpi, Politeísmos: as religiões do mundo antigo. São Paulo: Hedra, 2004, pp. 60 e ss]

 Desse modo, a  ópera é essencialmente o resultado da visão particular de Philip Glass, embora tenha contado com uma pesquisa historiográfica consistente, e não um tratado de egiptologia. Akhenaten fecha uma trilogia iniciada por Einstein on the beach (1975) e Satyagraha (1979). Foram três homens que, na visão de Glass, revolucionaram os pensamentos e eventos do seu tempo através do poder de uma visão interior. Assim, Einstein - o homem de ciência; Gandhi - o homem da política; Akhnaten - o homem da religião. Estes temas (ciência, política, religião), em certa medida, são partilhados por todos os três e formam nossa configuração social e ideológica.

As letras do libreto foram compostas a partir de textos da época de Akhnaten, do período de Amarna. Decretos, títulos, cartas, fragmentos de poemas, entre outros, foram todos recriados para serem cantados em suas línguas originais.


 Disponibilizo no link abaixo os arquivos desta clássica montagem:




ACT I: YEAR 1 OF AKHNATEN'S REIGN - THEBES

PRELUDE:


Refrain
Open are the double doors of the horizon
Unlocked are its bolts
Verse 1
Clouds darken the sky
The stars rain down
The constellations stagger
The bones of the hell hounds tremble
The porters are silent
When they see this king
Dawning as a soul
Refrain
(repeat above)
Verse 2
Men fall
Their name is not
Seize thou this king by his arm
Take this king to the sky
That he not die on earth
Among men
Refrain
(repeat above)
Verse 3
He flies who flies
This king flies away from you
Ye mortals
He is not of the earth
He is of the sky
He flaps his wings like a zeret bird
He goes to the sky
He goes to the sky
On the wind
On the wind


SCENE 1: FUNERAL OF AMENHOTEP III



Live life, thou shalt not die
Thou shall exist for millions
of millions of years
For millions of millions of years

Ankh ankh, en mitak
Yewk er heh en heh
Aha en heh

Hail, bringer of the boat of Ra
Strong are thy sails in the wind
As thou sailest over the Lake of Fire
In the Underworld

Ya inen makhent en Ra,
rud akit em mehit
em khentik er she nerserser
em netcher khert

Hail, bringer of the boat of Ra, etc.

Live life, thou shalt not die, etc.

Ya, inen makhent en Ra, etc.

Ankh ankh, en mitak, etc.


SCENE 2: THE CORONATION OF AKHNATEN



Hail to thee, thou who art in peace
Lord of joy, crowned form
Lord of the wereret crown, exalted of plumes
Beautiful of diadem, exalted of the white crown
The gods love to look upon thee
The double crown is established upon thy brow

Ye-nedj hrak yemi em hetepu
Neb aut yeb sekhem kha-u
Neb wereret ka shuti
Nefer seshed ka hedjet
Mertu netcheru maanek
Sekhi men em weptek

Text: Recited by the Scribe (from a list of Akhnaten's titles).

Live the Horus, Strong-Bull-Appearing-as-Justice;
He of the Two Ladies, Establishing Laws and
causing the Two-Lands to be Pacified;
Horus of Gold, Mighty-of-Arm-when-He-Smites-the-Asiatics;

King of Upper and Lower Egypt,
Nefer Kheperu Ra Wa en Ra,
Son of Neb-maet-Ra
(Lord of the Truth like Ra)
Son of Ra, Amenhotep (Amon is pleased)
Hek Wase (Ruler of Thebes), Given Life.

Mighty Bull, Lofty of Plumes;
Favorite of the Two Godesses,
Great in Kingship in Karnak;
Golden Hawk, wearer of Diadems in the Southern Heliopolos;
King of Upper and Lower Egypt.

Beautiful-is-the-Being of Ra,
The Only-One-of-Ra,
Son of the Sun,
Peace-of-Amon, Divine Ruler of Thebes;
Great in Duration, Living-for-Ever-and-Ever,
Beloved of Amon-Ra, Lord of Heaven.



ACT II, SCENE 1: THE TEMPLE



Oh Amon, creator of all things
All people say
We adore you
In jubilation
For resting among us.

Amen men khet nebet
Ya-u-nek em em djed
Sen er ayu
Nek henu nek en
En wered ek imen


SCENE 4: HYMN



Thou dost appear beautiful
On the horizon of heaven
Oh, living Aten
He who was the first to live
When thou hast risen on the Eastern Horizon
Thou art fair, great, dazzling,
High above every land
Thy rays encompass the land
To the very end of all thou hast made

All the beasts are satisfied with their pasture
Trees and plants are verdant
Birds fly from their nests, wings spread
Flocks skip with their feet
All that fly and alight
Live when thou hast arisen

How manifold is that which thou hast made
Thou sole God
There is no other like thee
Thou didst create the earth
According to thy will
Being alone, everything on earth
Which walks and flies on high

Thy rays nourish the fields
When thou dost rise
They live and thrive for thee
Thou makest the seasons to nourish
All thou hast made
The winter to cool
The heat that they may taste thee

There is no other that knows thee
Save thy son, Akhnaten
For thou hast made him skilled
In thy plans and thy might
Thou dost raise him up for thy son
Who comes forth from thyself


2 comentários:

Unknown disse...

Otimo artigo. Parabéns e MT obrigado. A opera é esplendorosa, agora preciso conhecer as outras 2. Abraços

MARCELO disse...

Muito obrigado!