quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Enfim...




                                   … a vida se torna uma série de ocasiões perdidas, um lamento                                                    sobre aquilo que não foi e que poderia ter sido, um remorso daquilo                                              que poderíamos ter feito e não fizemos. É assim que se desperdiça o                                         presente, fazendo dele uma nova ocasião perdida, da qual depois lastima-                                    se.
Oriana Fallaci


                                  Não há nada mais amargoque o amanhecer de um dia em que nada                                             acontecerá não há nada mais amargo que a inutilidade (…)A lentidão da                                        hora é impiedosa para quem não espera mais nada. 
   Cesare Pavese

                                Criar não é chorar o que se perdeu e que não se poderecuperar, mas                                            substituí-lo por uma obra tal que, ao construí-la, se reconstrói a si próprio.
                                                                                                                     Sigmund Freud

                                   (…) entre tempos vagarosos, sonhando arquiteturas.
                                                                                                                     Cecília Meireles


                                 O importante é escrever aquilo que nos ocorre – sua “verdade”, seu “peso”,                                   virá depois, se houver necessidade disso.
Lúcio Cardoso


Eis-me aqui. Após um interregno de mais de dois anos volto a escrever no Labirintos do Ser. Circunstâncias de diversas origens mantiveram-me afastado por um período além do esperado.
Tragédias familiares (a morte de minha mãe), trabalho, licenças médicas prolongadas, reviravoltas financeiras e existenciais... Desejar o impossível, fazer várias coisas ao mesmo tempoAlgumas portas que se fecharam enquanto algumas frestas vão surgindo/aclarando, promissoras...Todos estes eventos abriram brutais feridas; que estão longe de uma cicatrização satisfatória... Entretanto/Todavia, a vontade de prosseguir foi sempre mais intensa, apesar de tudo.

Não faltaram motivos para continuar escrevendo. Autores que descobri enquanto o blog hibernava, outros que passei a ler com outro olhar. …

 Ensaiei vários recomeços; em meados de 2013; no começo de 2014.
As licenças médicas constituíam, um período fértil para reordenar os devaneios, amontoar a desordem, onde, imerso na solidão pesquisava com mais intensidade, rabisquei ideias, elaborei rascunhos, reescrevi e descartei o que considerava insatisfatório.

Algo que nunca cogitei, apesar das dificuldades, quer da falta de tempo, da depessão, do bloqueio criativo, foi desativar o blog. Alterar seu nome, migrar do blogspot para outro serviço, na crença de que buscar novos ares animasse meu espírito, talvez... Até mesmo pensei em criar um irmão mais novo para o Labirintos do Ser, numa forma de distribuir assuntos e temas, uma página dedicada mais às ciências humanas, outra para meus gostos musicais, poéticos e visuais. Entretanto, da forma como foi concebido, ele me agrada. O problema sempre consistiu em meu bloqueio ou certo receio de expor algo que me parecia ainda incompleto, obscuro ou mal-elaborado. A metáfora do labirinto foi um achado que não pretendo abandonar, há um sentido, um norte, uma linha, ainda que diáfanos, em tudo que publiquei, sejam minhas concepções sobre assuntos diversos, especialmente educação, meus gostos estéticos. Não me preocupo com a coerência absoluta, do mesmo modo que a inconsistência conceitual me desagrada, seguir modismos políticos e culturais.

 Torná-lo menos “labiríntico”, regrando o que parecia uma “desordem” seria um equívoco.

  Dentro da “abismalidade”, em que me encontrava, nos momentos difíceis e graves, fui aos poucos, vivenciando o que o simbolismo do labirinto contém. Nas palavras de Mircea Eliade:

“Um labirinto é a defesa, por vezes mágica, de um centro, de uma riqueza, de uma significação. Penetrar aí pode ser um ritual iniciático, como vemos pelo mito de Teseu. Esse simbolismo é o modelo de toda a existência que, através de numerosas provas, avança para o seu próprio centro, para si mesmo, para o Atman, para empregar o termo indiano. Muitas vezes tive consciência de sair de um labirinto ou de encontrar o fio. Sentia-me desesperado oprimido, perdido... Claro que não disse para mim mesmo: 'Perdi-me no labirinto', mas, no fim, tive bem o sentimento de ter saído vitorioso de um labirinto. Cada um conhece esta experiência. Mas é ainda preciso dizer que a vida não é constituída por um só labirinto: a provação renova-se.
(Atingiu o seu centro?)

Tive várias vezes a certeza de o tocar e, tocando-o, aprendi muito, reconheci-me. Depois, de novo, perdia-me. É a nossa condição: não somos anjos nem puros heróis. Uma vez atingido o centro, somos enriquecidos, a consciência alarga-se e aprofunda-se, tudo se torna claro, significativo; mas a vida continua: outro labirinto, outros encontros, outras espécies de provação, num outro nível... As nossas conversas, por exemplo, projetaram-se numa espécie de labirinto.”

Por que escolhi esta imagem para ilustrar o post? A ilustração “Solitude” do artista japonês ka-92 é a representação visual que mais toca minha condição atual. Aprecio uma estética mais sombria, mas “Solitude” é formidável para o que eu planejava.
Temos um garoto, sentado numa cadeira sóbria, absorto em sua leitura. O cenário é emoldurado por uma vasta planície constituída por pequenas elevações de livros. Interminável, a paisagem é cortada por linhas sinuosas, estradas que facilitam o deslocamento pelo ambiente. Um céu levemente espiralado, que se confunde com os morros de livros, completa a cena
livros do mais diversos formatos; finos e grossos, brochuras, capas duras de couro com abotoaduras, alguns com marcadores de página, há aqueles abertos com o interior virado para baixo, e ainda outros com as folhas viradas ao sabor do vento. Seria a soma de todo o conhecimento humano?
O jovem aparenta possuir todo o tempo do mundo.
Pode-se interpretar de outro modo. Quiçá, metaforicamente, o eu acessando arquivos da memória, por simples devaneio ou necessidade urgente. Para quem gosta de leitura, por prazer, por hábito e não obrigação e, melhor ainda, conjugado ao ofício a que se dedica, a visão, labiríntica, não evoca enormes sentimentos de opressão e angústia.

Ainda tenso e oscilante retomo ao ofício. Acredito que não exista atividade mais produtiva do que realizar aquilo em que se acredita.

As epígrafes? Pincei-as a dedo. Elas acompanham minha trajetória desde que parei de blogar até o ponto atual. 

Hoje e durante os próximos dias vou postando material que escrevi recentemente e, conteúdos elaborados em períodos diversos, que há muito gostaria de ter publicado. Como sou perfeccionista e muito exigente comigo mesmo, não os considerava dignos de serem postados sem antes revisar aspectos que pareciam obscuros, superficiais ou mal elaborados.  

PS: Aos poucos vou atualizando e corrigindo os links quebrados e players musicais que não estão mais tocando.

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