… a vida se torna uma série de ocasiões perdidas, um lamento sobre aquilo que não foi e que poderia ter sido, um remorso daquilo que poderíamos ter feito e não fizemos. É assim que se desperdiça o presente, fazendo dele uma nova ocasião perdida, da qual depois lastima- se.
Oriana Fallaci
Não há nada mais amargoque o amanhecer de um dia em que nada acontecerá não há nada mais amargo que a inutilidade (…)A lentidão da hora é impiedosa para quem não espera mais nada.
Cesare Pavese
Criar não é chorar o que se perdeu e que não se poderecuperar, mas substituí-lo por uma obra tal que, ao construí-la, se reconstrói a si próprio.
Sigmund Freud
(…) entre tempos vagarosos, sonhando arquiteturas.
Cecília Meireles
O importante é escrever aquilo que nos ocorre – sua “verdade”, seu “peso”, virá depois, se houver necessidade disso.
Lúcio Cardoso
Eis-me aqui. Após um
interregno de mais de dois anos volto a escrever no Labirintos do
Ser. Circunstâncias de diversas origens mantiveram-me afastado por
um período além do esperado.
Tragédias familiares
(a morte de minha mãe), trabalho, licenças médicas prolongadas,
reviravoltas financeiras e existenciais... Desejar o impossível, fazer várias coisas ao mesmo tempoAlgumas portas que se
fecharam enquanto algumas frestas vão surgindo/aclarando,
promissoras...Todos estes eventos abriram brutais feridas; que estão
longe de uma cicatrização satisfatória... Entretanto/Todavia, a
vontade de prosseguir foi sempre mais intensa, apesar de tudo.
Não faltaram motivos
para continuar escrevendo. Autores que descobri enquanto o blog
hibernava, outros que passei a ler com outro olhar. …
Ensaiei vários
recomeços; em meados de 2013; no começo de 2014.
As licenças médicas
constituíam, um período fértil para reordenar os devaneios,
amontoar a desordem, onde, imerso na solidão pesquisava com mais
intensidade, rabisquei ideias, elaborei rascunhos, reescrevi e
descartei o que considerava insatisfatório.
Algo que nunca cogitei,
apesar das dificuldades, quer da falta de tempo, da depessão, do
bloqueio criativo, foi desativar o blog. Alterar seu nome, migrar do
blogspot para outro serviço, na crença de que buscar novos ares
animasse meu espírito, talvez... Até mesmo pensei em criar um irmão
mais novo para o Labirintos do Ser, numa forma de distribuir assuntos
e temas, uma página dedicada mais às ciências humanas, outra para
meus gostos musicais, poéticos e visuais. Entretanto, da forma como
foi concebido, ele me agrada. O problema sempre consistiu em meu
bloqueio ou certo receio de expor algo que me parecia ainda
incompleto, obscuro ou mal-elaborado. A metáfora do labirinto foi um
achado que não pretendo abandonar, há um sentido, um norte, uma
linha, ainda que diáfanos, em tudo que publiquei, sejam minhas
concepções sobre assuntos diversos, especialmente educação, meus
gostos estéticos. Não me preocupo com a coerência absoluta, do
mesmo modo que a inconsistência conceitual me desagrada, seguir
modismos políticos e culturais.
Torná-lo menos
“labiríntico”, regrando o que parecia uma “desordem” seria
um equívoco.
Dentro da
“abismalidade”, em que me encontrava, nos momentos difíceis e
graves, fui aos poucos, vivenciando o que o simbolismo do labirinto
contém. Nas palavras de Mircea Eliade:
“Um labirinto é a
defesa, por vezes mágica, de um centro, de uma riqueza, de uma
significação. Penetrar aí pode ser um ritual iniciático, como
vemos pelo mito de Teseu. Esse simbolismo é o modelo de toda a
existência que, através de numerosas provas, avança para o seu
próprio centro, para si mesmo, para o Atman, para empregar o termo
indiano. Muitas vezes tive consciência de sair de um labirinto ou de
encontrar o fio. Sentia-me desesperado oprimido, perdido... Claro que
não disse para mim mesmo: 'Perdi-me no labirinto', mas, no fim, tive
bem o sentimento de ter saído vitorioso de um labirinto. Cada um
conhece esta experiência. Mas é ainda preciso dizer que a vida não
é constituída por um só labirinto: a provação renova-se.
(Atingiu o seu
centro?)
Tive várias vezes a
certeza de o tocar e, tocando-o, aprendi muito, reconheci-me. Depois,
de novo, perdia-me. É a nossa condição: não somos anjos nem puros
heróis. Uma vez atingido o centro, somos enriquecidos, a consciência
alarga-se e aprofunda-se, tudo se torna claro, significativo; mas a
vida continua: outro labirinto, outros encontros, outras espécies de
provação, num outro nível... As nossas conversas, por exemplo,
projetaram-se numa espécie de labirinto.”
Por que escolhi esta
imagem para ilustrar o post? A ilustração “Solitude” do artista
japonês ka-92 é a representação visual que mais toca minha
condição atual. Aprecio uma estética mais sombria, mas “Solitude”
é formidável para o que eu planejava.
Temos um garoto,
sentado numa cadeira sóbria, absorto em sua leitura. O cenário é
emoldurado por uma vasta planície constituída por pequenas
elevações de livros. Interminável, a paisagem é cortada por
linhas sinuosas, estradas que facilitam o deslocamento pelo ambiente.
Um céu levemente espiralado, que se confunde com os morros de
livros, completa a cena
livros do mais
diversos formatos; finos e grossos, brochuras, capas duras de couro
com abotoaduras, alguns com marcadores de página, há aqueles
abertos com o interior virado para baixo, e ainda outros com as
folhas viradas ao sabor do vento. Seria a soma de todo o conhecimento
humano?
O jovem aparenta
possuir todo o tempo do mundo.
Pode-se interpretar de
outro modo. Quiçá, metaforicamente, o eu acessando arquivos da
memória, por simples devaneio ou necessidade urgente. Para quem
gosta de leitura, por prazer, por hábito e não obrigação e,
melhor ainda, conjugado ao ofício a que se dedica, a visão,
labiríntica, não evoca enormes sentimentos de opressão e angústia.
Ainda tenso e oscilante retomo ao ofício. Acredito que não exista atividade mais produtiva do que realizar aquilo em que se acredita.
As epígrafes? Pincei-as a dedo. Elas acompanham minha trajetória desde que parei de blogar até o ponto atual.
Ainda tenso e oscilante retomo ao ofício. Acredito que não exista atividade mais produtiva do que realizar aquilo em que se acredita.
As epígrafes? Pincei-as a dedo. Elas acompanham minha trajetória desde que parei de blogar até o ponto atual.
Hoje e durante os
próximos dias vou postando material que escrevi recentemente e,
conteúdos elaborados em períodos diversos, que há muito gostaria
de ter publicado. Como sou perfeccionista e muito exigente comigo
mesmo, não os considerava dignos de serem postados sem antes revisar
aspectos que pareciam obscuros, superficiais ou mal elaborados.
PS: Aos poucos vou atualizando e corrigindo os links quebrados e players musicais que não estão mais tocando.
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